quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Açores



Há muito que não corro com música. De resto, há muito que não corro. Mas, quando oiço música, raras são as vezes que não me vejo monte acima e abaixo.

Esta, particularmente, porque tem um nome especial, remeteu-me para o Faial Costa-a-Costa (ainda não encontrei melhor sensação na corrida do que, completamente exausta, descer a correr sobre cinzas para a meta), mas também muitos anos antes, 33 anos antes, para aquela que é a “Terceira” ilha, a rebolar, relva abaixo, depois de ter subido, junto à Messe de Oficiais na Base das Lages, com a amiga que hoje é madrinha da Inês e que me escolheu para madrinha da Leonor.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O Bordão do Mário




Esta rica experiência tem que se transforma num tónico para inspirar o caminhante em novos desafios, sabendo sempre que o caminho se faz caminhando. A vida sem obstáculos perdia o sabor da glória no momento da conquista.

Assim escreveu Rui Nóbrega, dinamizador do grupo Madeira de Lés-a-Lés, enquadrando um outro texto. O do Mário.

Foi em maio último. O Mário fora desafiado para uma caminhada nível de dureza 5 (numa escala de 5). O nível de dureza concluí eu, depois de ler o que escreveu, claro. Qualquer coisa como “em números redondos, 3 horas para cima e 4 horas para baixo” (palavras do Mário), entre a Vereda da Achada dos Judeus e o Topo das Queimadas, locais que, apesar da minha “vasta” experiência de 85 km sobre pés, de lés-a-lés, naquela ilha, desconheço. Ainda. Lá voltarei, como de resto havia apalavrado com o Mário, 4 dias antes do dia em que o coração do Mário decidiu parar, já que o seu dono teimava em não lhe dar descanso.

Nesse texto que o Mário escreveu e me enviou, intitulado “Rocha, o homem caiu”, o homem que caiu foi efetivamente ele próprio, mas rapidamente se levantou porque, claro, e palavras dele, “havia todo um prestígio a manter”. Assim era o Mário.

Foi nesse texto também que soube existir a palavra “bordão”. “O que é? Um bastão?”, perguntei eu. “É uma espécie de cajado”, respondeu ele. O bordão. De madeira, pesado, a contrastar com essas modernices que uso, leves, em carbono, que encolhem e esticam, para não comprometer o desempenho do “atleta” e que, só para marcar a diferença, têm o nome de bastão. “Super Mário” era o que lhe chamava a brincar. Mais uma vez provava que o era. No sábado passado, antes de partir para a sua caminhada, enviou-me a foto do bordão. Vou guardar, qual relíquia.

Há um par de meses, quando fiz 40 anos, deixou-me três lindas garrafinhas de poncha da Madeira. Não tive coragem de lhe dizer que detesto licores ou bebidas doces. Mas as garrafas eram (são) lindas. Prometo que as vou esvaziar, por ele, para ele, brindando e exclamando o seu nome. Não por acaso, ainda há dias lia “there is no eternal resting place for anybody, we exist to eternally create”. O Mário que não pense que lhe vão dar descanso.

De resto, do Mário guardarei a contagiante alegria, a genuína amizade, os “olás” inesperados (e que sabiam tão bem) e os fantásticos momentos pós-foruns-europeus-sobre-qualidade-de-serviço-aeroportuário: o melhor kebab no tasco mais manhoso de Istambul e a requintada “raclete” no Café de l’Hotel de Ville de Genebra, onde o chefe dos empregados era emigrante português, proferiu com dificuldade a palavra “saudade” e nos deixou a ambos a choramingar.

Saudade é o que me, nos deixas. Olha por nós. Decerto estás bem e confortavelmente instalado nesse cantinho de céu que é teu por direito.