Trilhos do Pastor… Será que os pastores têm uma vida tão dura assim? Tão ondulada e cheia de pedra? Valentes pastores.
Antes de adiantar mais uma linha que seja, terei naturalmente que explicar a razão de ser deste título.
Há algumas semanas atrás, o José Guimarães escreveu um artigo relatando o seu treino em Sintra com um verdadeiro fenómeno da corrida, intitulando-o de “Corri com o Dean Karnazes“. Perceberam?!
Trilhos com pautas
Confesso que não faço ideia se o Ludovico Einaudi corre, mas pouco importa. Hoje correu comigo.
Depois do concerto na sexta-feira no CCB fiquei em modo “peixe-balão”. De coração cheio. É impressionante como o Universo se mobiliza e coloca neste mundo gente tão talentosa. Gente que coloca o seu talento ao serviço de outros, para se sentirem mais… mais de coração cheio! Todos os corredores experientes dirão que é má ideia ouvir música num treino ou prova de trilhos. Os sons da natureza merecem ser ouvidos na sua genuinidade quando temos oportunidade, dizem. Assim aconteceu nas minhas 4 anteriores experiências em trilhos. Vejo-me obrigada a discordar depois de ter vivido o que vivi hoje.
Susana, Hollywood e Analice
Durante cerca de 4 km corri ouvindo a minha respiração e passada. Troquei algumas palavrinhas com algumas caras que já vou reconhecendo de outras provas em estilo “trilhos”.
Depois… Bem, depois…
Não ouvi os sons da natureza, é certo, mas a visão ficou mais nítida e vi tudo a 5D (isto existe?).
O olfato apurou também e distingui o cheirinho de cada folha, flor, arbusto ou árvore que me rodeava.
Quanto à audição… O piano de Einaudi, acompanhado dos violinos e da guitarra clássica fizeram-me sonhar enquanto corria. Fugia de tropas francesas que queriam dizimar índios. Fui o Daniel Day Lewis no filme “The Last of the Mohicans“. Fui uma escocesa rebelde que fugia das tropas inglesas. Fui o Mel Gibson em “Braveheart“. Fui gladiadora e vingava a morte de pobres e oprimidos. Fui o Russel Crowe em “The Gladiator“. Fui tudo isto ao som de “Life“, “Run“, “Walk“, “Experience” e, a minha preferida, “Waterways“.
Chegada a um dos pontos mais altos da prova, o Einaudi ofereceu-me o tema “Divenire“. A Serra d’Aire e Candeeiros ofereceu-me mais de uma dezena de moinhos de vento, que “diveniram” verdadeiras bailarinas, dançando com elegância e sincronia ao som do piano e violinos.
A dada altura vi uma cabecinha ao fundo – é a Analice! Acelerei um pouco. Recolhi a música e falámos um pedacito. “A menina siga, que vai bem”, disse-me. Respondi-lhe que não tinha pressa. Voltou a insistir e acabei por passar. Voltei à minha música e, depois deste encontro, viajei até ao deserto. Que coragem.
Escusado será dizer que alguns quilómetros mais tarde, voltou a ultrapassar-me. Tentei seguir-lhe no encalço, lembrando-me que a senhora que corria à minha frente tem mais 30 anos do que eu, pelo que eu podia, no mínimo, esforçar-me um pouco mais. Não resultou. Perdia-a de vista!
Azedas e caminhos… amargos!
“Preciso do meu isotónico, onde anda ele?!”, pensei. Bem pensado, bem feito. Deparo-me com um pequeno campo pintalgado de azedas. Agarrei num molho e fui roendo alegremente. Sabem lá como gosto de azedas.
Cheguei ao abastecimento das “papinhas” sem dorsal. Havia-se soltado logo no primeiro km da prova e optei por o dobrar e prender no cinto das garrafinhas de água. Nem dei por o ter perdido. Ainda estava nas minhas justificações e palhaçada junto do elemento do controlo quando chega um atleta com o meu dorsal na mão. Estava safa. Quatro gomos de laranja e um cubo de marmelada depois, agradeci e prossegui. Bem, verdade seja dita, prossegui muito devagar porque o que me aguardava não era próprio para meninas. Para ajudar, começa a chover desenfreadamente. Subi como pude, desejando que acabasse depressa, mas havia sempre mais um pedaço para subir. Quando finalmente inicia a descida, as pernas e joelhos estão tão massacrados que o corpo prefere antes continuar a subir. Acho que desliguei depois desta parede. Depois de a subir e de a voltar a descer. Faltavam ainda 5 km. Quem corre em trilhos sabe bem que pode demorar-se uma hora a percorre-los.
E eu desconhecia o que me esperava. A criticidade do percurso que se seguia assentou na pedra e não na altimetria. Pedra, tanta pedra. Bem podiam ser aquelas redondinhas e macias que nos massajam os pés na praia, mas não. Estas pedras decidiram ser angulares, bicudas, feias, más, terríficas, odiosas. Mas não havia outro caminho. Segui. E perdi novamente o dorsal.
O cem chega finalmente à meta
Chegada à meta lá disse numa voz sumida que era o cem. “Sem número?”, perguntaram. “Não, o meu dorsal é o cem!”. Nunca um dorsal foi tão falado. Na meta esperam-me os meus amigos. Já todos chegaram, já se aprontaram e querem almoçar, pois claro.
Alguns minutos depois, tocam-me no ombro. Volto-me e lá está ele! O meu “cem”, pelas mãos do mesmo atleta, eleito o atleta-recupera-dorsais dos Trilhos do Pastor – o Manuel! Eu que sempre “despachei” os dorsais das provas para o contentor da reciclagem, guardarei este com carinho. E voltarei ao pastoreio no ano que vem. Valeu bem a pena.
segunda-feira, 25 de março de 2013
sexta-feira, 22 de março de 2013
Atleta solitário
De cada vez que oiço o “Surfista Solitário” do Gabriel, o Pensador, os pensamentos fogem para a minha green, há tanto tempo encostada na parede da arrecadação e a precisar de sal. Na realidade, não sei quem precisa mais de água salgada – se a prancha, se eu.
Oiço o “Surfista Solitário” e penso também como a letra, devidamente adaptada, poderia constituir o hino dos triliões de corredores que por aí andam. Corrijo, correm. Corredores solitários. Aquilo que sou na maioria das vezes e, confesso, gosto verdadeiramente.
Quem me conhece sabe bem que não sou “bicho-do-mato” ou da estirpe de gente anti-social, mas há qualquer coisa realmente especial no ato de correr comigo própria. Talvez o dia-a-dia seja demasiado ruidoso, demasiado cheio de gente, demasiado veloz – atenção, nenhum destes adjetivos deve ser entendido de forma negativa – e, por isso, privilegie alguns momentos só.
Como eu, há muitos corredores que apreciam correr sozinhos. Por vezes brinco dizendo que sou corredora independente. Sou uma Susana por conta d’outrém em tantas coisas – o Governo e o “patrão”, por exemplo – que procuro na corrida o modelo “por conta própria”, para equilibrar a balança.
Corredores solitários… Somos nós quem decide o horário, somos nós quem define o percurso, somos nós quem impõe o ritmo. Ouvimos a nossa música ou simplesmente os sons da natureza. Usamos o tempo para pensar no que quisermos. Ou simplesmente não pensar de todo e concentrar exclusivamente na passada e na respiração. Nós mandamos. E sabe bem.
Gabriel, não te zangues comigo, mas vou ensaiar a “devida adaptação”, numa modesta reciclagem, já que me falta 99% do teu talento e arte da poesia. Embora me considere uma corredora e não uma atleta, a segunda opção é mais melódica, pelo que será a versão selecionada para este promissor hit.
Oiço o “Surfista Solitário” e penso também como a letra, devidamente adaptada, poderia constituir o hino dos triliões de corredores que por aí andam. Corrijo, correm. Corredores solitários. Aquilo que sou na maioria das vezes e, confesso, gosto verdadeiramente.
Quem me conhece sabe bem que não sou “bicho-do-mato” ou da estirpe de gente anti-social, mas há qualquer coisa realmente especial no ato de correr comigo própria. Talvez o dia-a-dia seja demasiado ruidoso, demasiado cheio de gente, demasiado veloz – atenção, nenhum destes adjetivos deve ser entendido de forma negativa – e, por isso, privilegie alguns momentos só.
Como eu, há muitos corredores que apreciam correr sozinhos. Por vezes brinco dizendo que sou corredora independente. Sou uma Susana por conta d’outrém em tantas coisas – o Governo e o “patrão”, por exemplo – que procuro na corrida o modelo “por conta própria”, para equilibrar a balança.
Corredores solitários… Somos nós quem decide o horário, somos nós quem define o percurso, somos nós quem impõe o ritmo. Ouvimos a nossa música ou simplesmente os sons da natureza. Usamos o tempo para pensar no que quisermos. Ou simplesmente não pensar de todo e concentrar exclusivamente na passada e na respiração. Nós mandamos. E sabe bem.
Gabriel, não te zangues comigo, mas vou ensaiar a “devida adaptação”, numa modesta reciclagem, já que me falta 99% do teu talento e arte da poesia. Embora me considere uma corredora e não uma atleta, a segunda opção é mais melódica, pelo que será a versão selecionada para este promissor hit.
Olhei pra estrada, pra não me perder de vista
E vi um caminho solitário, seguindo sem parar
Como se fosse ele o corredor
O caminho olhou pra mim, me convidou, me convidou a entrar
Oferecendo o alcatrão, a areia e o cascalho sem pudor
E eu que não sou bruxa, mas entendo de milagre
Fui correndo sobre a estrada do jeito que só quem corre sabe
E vi um caminho solitário, seguindo sem parar
Como se fosse ele o corredor
O caminho olhou pra mim, me convidou, me convidou a entrar
Oferecendo o alcatrão, a areia e o cascalho sem pudor
E eu que não sou bruxa, mas entendo de milagre
Fui correndo sobre a estrada do jeito que só quem corre sabe
Acorde num domingo, tome o seu café
Pegue os seus ténis, tome o seu som
Reze com fé e vai correr
E vai correr!
Solitário Atleta (repetir)
Pegue os seus ténis, tome o seu som
Reze com fé e vai correr
E vai correr!
Solitário Atleta (repetir)
Caminho doce caminho, vasto e profundo, mais vasto é o meu coração
Que não cabe nesse mundo e precisa transbordar
Sprintar não é preciso, é preciso é rolar
Nada parado, tudo em movimento
O chão é o meu tapete e o céu é o meu teto
O tapete me puxando e eu lá dentro, acelero e acelera o batimento
Devagar, devagarinho, ao longe vou chegando
Cada louco tem a sua loucura
Eu corro por isso, esquecendo a contratura
A serotonina me chama, eu não resisto
Sei que a corrida tem a sua maneira de transformar
Uma lenta tartaruga numa lebre, parece feitiço
A serotonina me chama, eu corro atrás disso
Que não cabe nesse mundo e precisa transbordar
Sprintar não é preciso, é preciso é rolar
Nada parado, tudo em movimento
O chão é o meu tapete e o céu é o meu teto
O tapete me puxando e eu lá dentro, acelero e acelera o batimento
Devagar, devagarinho, ao longe vou chegando
Cada louco tem a sua loucura
Eu corro por isso, esquecendo a contratura
A serotonina me chama, eu não resisto
Sei que a corrida tem a sua maneira de transformar
Uma lenta tartaruga numa lebre, parece feitiço
A serotonina me chama, eu corro atrás disso
Solitário Atleta (repetir)
Acorde num domingo, tome o seu café
Pegue os seus ténis, tome o seu som
Reze com fé e vai correr
E vai correr!
Solitário Atleta (repetir)
Pegue os seus ténis, tome o seu som
Reze com fé e vai correr
E vai correr!
Solitário Atleta (repetir)
Cheguei na serra, olhei pra serra, entrei no trilho
Entrei no trilho, olhei pra rampa, entrei na rampa
Entrei na rampa e fiz a rampa até ao fim
Entrei no trilho que corre na minha aldeia
O meu trilho não é um trilho qualquer
Do meu trilho eu saio de cabeça feita
E na minha serra uma cascata perfeita sorrindo pra mim
Mais perfeita do que a cascata mais perfeita
Adivinha meu desejo de água pura e gélida
Me observando, trilhando por aqui e por ali
Cheguei na água, entrei na água e logo mergulhei
Cada músculo e tendão das minhas pernas
Beleza da natureza, uma maravilhosa surpresa
Corredor virando sapo, um sapo com pernas de gente
Continuando, trilho abaixo, heroicamente!
Entrei no trilho, olhei pra rampa, entrei na rampa
Entrei na rampa e fiz a rampa até ao fim
Entrei no trilho que corre na minha aldeia
O meu trilho não é um trilho qualquer
Do meu trilho eu saio de cabeça feita
E na minha serra uma cascata perfeita sorrindo pra mim
Mais perfeita do que a cascata mais perfeita
Adivinha meu desejo de água pura e gélida
Me observando, trilhando por aqui e por ali
Cheguei na água, entrei na água e logo mergulhei
Cada músculo e tendão das minhas pernas
Beleza da natureza, uma maravilhosa surpresa
Corredor virando sapo, um sapo com pernas de gente
Continuando, trilho abaixo, heroicamente!
Solitário Atleta (repetir)
É isso aí, é isso aí, é isso aí!
quinta-feira, 14 de março de 2013
Correr com batom
Batom ou bâtons?
Sim, leram bem. Eu escrevi batom. Não escrevi “bâtons” (à la française) ou bastões (à la portugaise)!…
Gostam do vermelho forte do batom “Moulin Rouge”? Então podem continuar a ler. Caso não tenham qualquer gosto particular pela cor ou produto, convido-os a desistir. Ou eventualmente ficar mais um pouco. Quem sabe estas palavras vos possam vir a ser úteis. De toda a forma, este texto tem um foco muito particular. Miúdas. E graúdas também. Por isso, escreverei para elas.
Ainda estão aí? Eu sabia que os homens iriam ficar. Ainda assim, continuarei a escrever para elas.
A primavera a chegar… e a seguir… O verão!
Eventualmente ainda não se terão dado conta, mas os dois primeiros meses do ano já passaram. O tempo voa efetivamente e, não tarda, estarão a acordar de manhã cedo, desejando colocar os pezinhos descalços na areia quente. E, quando esse dia chegar… Já sabemos. Vão protestar com o espelho e com o bikini do ano passado, que terá tido a ousadia de encolher durante o outono e inverno, enquanto repousava candidamente na gaveta do roupeiro. Fiquem atentas porque vão querer saber mais sobre o que a Sofia Novais de Paula e o José Guimarães prepararam, pensando nesse dia e no vosso bikini.
Correr pode ser tão divertido quanto delinear cuidadosamente o batom. Não sei se correr com bastões é divertido – nunca experimentei -, mas correr, com ou sem batom, vos garanto, é das melhores coisas que nos podemos oferecer a nós próprias. De resto, atrevo-me a dizer que é muito mais fácil correr do que não esborratar o batom no processo de maquilhagem matinal.
Já não sou miúda, é certo, mas às vezes gosto de pensar que sim. Talvez a corrida me tenha tornado mais nova. Diz-se por aí que a corrida acelera o metabolismo. Por ser uma atividade de alto impacto, envelhece mais rapidamente quem corre. Teorias há muitas. Seja como for, prefiro chegar mais depressa a velhinha, mas sentindo-me bem, do que o contrário.
O tempo, “ai e tal”, não tenho tempo…
Sou mãe de duas crianças pequenas. Por isso não se atrevam a dizer “ai e tal, não tenho tempo”. Trabalho a tempo inteiro. Mais uma vez vos digo. Ter trabalho (e remunerado) é coisa de gente com sorte, por isso nada de desculpas.
Comecei a correr há cerca de 2 anos. Não tinha relógio nem marcas no piso, mas devo ter corrido cerca de 4 km. Não foi divertido. A sério. Não teve qualquer graça. Ainda assim, não parei. Dois dias depois repeti a dose. E outros dois dias depois. E assim sucessivamente. Entretanto já lá vão cerca de 800 dias. Não andarei longe da verdade se vos disser que, em 500 deles, calcei os ténis e fui correr. Por aqui, por ali, por onde calhou.
Adquiri um relógio ”xpto” um ano depois de ter começado a correr. Ainda não completou 365 dias de vida e diz-me que já queimei 61.118 kcal nas minhas corridas. Ora se não tivesse corrido, onde as teria guardado? Pensem nisso. As calorias não são aqueles “bichinhos que dormem nos nossos armários e, durante a noite, encolhem as nossas roupas”. A caloria é uma unidade de medida de energia. Logo, caloria é energia.
Não sou muito dada a química e física, mas é fácil concluir que não nos fará bem acumular tanta energia. Há que a queimar. O corpo e a mente irão decerto agradecer. Queimem-na como quiserem. Eu sugiro que o façam correndo. Em média, numa corrida leve de 8 km – nada de pressas – queimamos 400 kcal. Ora agora sim – serão menos 400 bichinhos a povoar e a conviver no nosso organismo, roubando o espaço que tantas outras coisas boas merecem.
Anda tudo louco ou isto da corrida é mesmo bom?!
Estéticas e calorias à parte, já se interrogaram porque anda meio mundo a correr desvairadamente pelas ruas desta cidade? As mensalidades dos ginásios não encaixam no orçamento, é certo, mas… Será só isso? E… Já ouviram porventura algum desses desvairados dizer que começou a correr mas depois desistiu? A corrida liberta muito mais do que gotinhas de suor, acreditem. Se não constava da vossa lista de resoluções para 2013, vão seguramente querer fazer um upgrade. Fiquem atentas. Está na hora. Vão começar a correr.
Para terminar, reproduzo algumas palavras que encontrei num excelente artigo sobre corrida do jornal “O Expresso”, publicado em setembro de 2012. Está tudo lá. Na altura, a poucas semanas de partir em busca dos meus primeiros 42.195 metros, sublinhei todos os testemunhos que me tocaram. De mães, de pais, de profissionais. Gente comum, gente da ribalta. Mas tudo gente que corre. “É uma espécie de higiene pessoal, uma disciplina de que não abdicam, e que encaixam acrobaticamente em horários blindados”. “Não posso negar que sou viciado na corrida”. “Viajar para correr passou a ser um ritual”. “Preciso é de música de carrinhos de choque”. “E é mais barato do que ir ao psicólogo ou comprar sapatos”. “Como uma praia em Porto Santo, sem uma única pegada antes de eu passar”. “Aquilo que outros encontram na meditação ou na fé, eu encontrei na corrida”. “Sempre corri sozinho. Para mim é um ato intimista. Completo-me desta maneira”. “Quando corro sozinha resolvo imensos problemas”. “O meu marido não me acompanha, mas respeita a minha necessidade de correr. Ele acha que para percorrer 42 km existem os carros”. “Dá para ter uma progressão muito rápida, e isso é motivador. Isto entranha-se”.
Acreditem. Nós, os que corremos, não somos uns desvairados. Somos uns afortunados porque já descobrimos o quanto a corrida nos faz bem.
Toma nota: começas a correr já no próximo domingo!
Prontas para começar?
O tiro de partida para a vossa admirável nova vida é já no dia 17 de março (nada de planos a longo prazo – começa já!), com partida na ACADEMIA em Santos, pelas 9h00, na companhia da Sofia e do José!
Sim, leram bem. Eu escrevi batom. Não escrevi “bâtons” (à la française) ou bastões (à la portugaise)!…
Gostam do vermelho forte do batom “Moulin Rouge”? Então podem continuar a ler. Caso não tenham qualquer gosto particular pela cor ou produto, convido-os a desistir. Ou eventualmente ficar mais um pouco. Quem sabe estas palavras vos possam vir a ser úteis. De toda a forma, este texto tem um foco muito particular. Miúdas. E graúdas também. Por isso, escreverei para elas.
Ainda estão aí? Eu sabia que os homens iriam ficar. Ainda assim, continuarei a escrever para elas.
A primavera a chegar… e a seguir… O verão!
Eventualmente ainda não se terão dado conta, mas os dois primeiros meses do ano já passaram. O tempo voa efetivamente e, não tarda, estarão a acordar de manhã cedo, desejando colocar os pezinhos descalços na areia quente. E, quando esse dia chegar… Já sabemos. Vão protestar com o espelho e com o bikini do ano passado, que terá tido a ousadia de encolher durante o outono e inverno, enquanto repousava candidamente na gaveta do roupeiro. Fiquem atentas porque vão querer saber mais sobre o que a Sofia Novais de Paula e o José Guimarães prepararam, pensando nesse dia e no vosso bikini.
Correr pode ser tão divertido quanto delinear cuidadosamente o batom. Não sei se correr com bastões é divertido – nunca experimentei -, mas correr, com ou sem batom, vos garanto, é das melhores coisas que nos podemos oferecer a nós próprias. De resto, atrevo-me a dizer que é muito mais fácil correr do que não esborratar o batom no processo de maquilhagem matinal.
Já não sou miúda, é certo, mas às vezes gosto de pensar que sim. Talvez a corrida me tenha tornado mais nova. Diz-se por aí que a corrida acelera o metabolismo. Por ser uma atividade de alto impacto, envelhece mais rapidamente quem corre. Teorias há muitas. Seja como for, prefiro chegar mais depressa a velhinha, mas sentindo-me bem, do que o contrário.
O tempo, “ai e tal”, não tenho tempo…
Sou mãe de duas crianças pequenas. Por isso não se atrevam a dizer “ai e tal, não tenho tempo”. Trabalho a tempo inteiro. Mais uma vez vos digo. Ter trabalho (e remunerado) é coisa de gente com sorte, por isso nada de desculpas.
Comecei a correr há cerca de 2 anos. Não tinha relógio nem marcas no piso, mas devo ter corrido cerca de 4 km. Não foi divertido. A sério. Não teve qualquer graça. Ainda assim, não parei. Dois dias depois repeti a dose. E outros dois dias depois. E assim sucessivamente. Entretanto já lá vão cerca de 800 dias. Não andarei longe da verdade se vos disser que, em 500 deles, calcei os ténis e fui correr. Por aqui, por ali, por onde calhou.
Adquiri um relógio ”xpto” um ano depois de ter começado a correr. Ainda não completou 365 dias de vida e diz-me que já queimei 61.118 kcal nas minhas corridas. Ora se não tivesse corrido, onde as teria guardado? Pensem nisso. As calorias não são aqueles “bichinhos que dormem nos nossos armários e, durante a noite, encolhem as nossas roupas”. A caloria é uma unidade de medida de energia. Logo, caloria é energia.
Não sou muito dada a química e física, mas é fácil concluir que não nos fará bem acumular tanta energia. Há que a queimar. O corpo e a mente irão decerto agradecer. Queimem-na como quiserem. Eu sugiro que o façam correndo. Em média, numa corrida leve de 8 km – nada de pressas – queimamos 400 kcal. Ora agora sim – serão menos 400 bichinhos a povoar e a conviver no nosso organismo, roubando o espaço que tantas outras coisas boas merecem.
Anda tudo louco ou isto da corrida é mesmo bom?!
Estéticas e calorias à parte, já se interrogaram porque anda meio mundo a correr desvairadamente pelas ruas desta cidade? As mensalidades dos ginásios não encaixam no orçamento, é certo, mas… Será só isso? E… Já ouviram porventura algum desses desvairados dizer que começou a correr mas depois desistiu? A corrida liberta muito mais do que gotinhas de suor, acreditem. Se não constava da vossa lista de resoluções para 2013, vão seguramente querer fazer um upgrade. Fiquem atentas. Está na hora. Vão começar a correr.
Para terminar, reproduzo algumas palavras que encontrei num excelente artigo sobre corrida do jornal “O Expresso”, publicado em setembro de 2012. Está tudo lá. Na altura, a poucas semanas de partir em busca dos meus primeiros 42.195 metros, sublinhei todos os testemunhos que me tocaram. De mães, de pais, de profissionais. Gente comum, gente da ribalta. Mas tudo gente que corre. “É uma espécie de higiene pessoal, uma disciplina de que não abdicam, e que encaixam acrobaticamente em horários blindados”. “Não posso negar que sou viciado na corrida”. “Viajar para correr passou a ser um ritual”. “Preciso é de música de carrinhos de choque”. “E é mais barato do que ir ao psicólogo ou comprar sapatos”. “Como uma praia em Porto Santo, sem uma única pegada antes de eu passar”. “Aquilo que outros encontram na meditação ou na fé, eu encontrei na corrida”. “Sempre corri sozinho. Para mim é um ato intimista. Completo-me desta maneira”. “Quando corro sozinha resolvo imensos problemas”. “O meu marido não me acompanha, mas respeita a minha necessidade de correr. Ele acha que para percorrer 42 km existem os carros”. “Dá para ter uma progressão muito rápida, e isso é motivador. Isto entranha-se”.
Acreditem. Nós, os que corremos, não somos uns desvairados. Somos uns afortunados porque já descobrimos o quanto a corrida nos faz bem.
Toma nota: começas a correr já no próximo domingo!
Prontas para começar?
O tiro de partida para a vossa admirável nova vida é já no dia 17 de março (nada de planos a longo prazo – começa já!), com partida na ACADEMIA em Santos, pelas 9h00, na companhia da Sofia e do José!
segunda-feira, 11 de março de 2013
Correr na Rua Sésamo
Caros atletas… Vamos correr!
Hoje sou eu quem decide o percurso. Correremos na Rua
Sésamo.
A corrida inicia-se na letra “A” e desenvolve-se ao
longo de 23 letras.
Confesso que nesta fase ainda não sei como vai ser a
meta: a letra “Z”. Mas lá chegaremos.
Se quiserem auto-proclamar-se de joggers, corredores,
atletas ou coisa do género, vão querer estar por dentro destes assuntos.
Tiro de partida!
A: Alongar
Prática imprescindível se quiseres evitar lesões… E
correr mais rápido! Não descures o “estica-e-puxa” na corrida. Os teus
músculos ganharão elasticidade com os alongamentos e tu ganharás flexibilidade.
Se alongares regularmente, ampliarás a passada e conseguirás cruzar a meta com
menos esforço. Quanto às lesões, embora existam opiniões divergentes, há quem
diga que “deixar de alongar é como deixar de colocar óleo na corrente da
bicicleta: ela endurece e a dado momento rebenta”. Uma coisa é certa. O músculo
deverá estar aquecido (mas não sobreaquecido!) antes dos alongamentos, para que
estes sejam eficazes e seguros. Aguarda cerca de 10 minutos para alongares após
a corrida.
B: Boost
Trata-se da maior inovação tecnológica do momento no
mercado do “running” e tem dado muito que falar. A marca alemã ADIDAS acaba de
desenvolver o novo sistema de amortização boost, que rapidamente se deverá
estender a outras categorias desportivas. Segundo dizem os aficionados, as
chaves do seu êxito consubstanciam-se no “retorno revolucionário de energia, na
amortização superior, no melhor ajuste e no rendimento independente da
temperatura exterior”. Se já experimentaste, diz-nos o que achas!
C: Caminhar
Caminhar numa prova não significa parar e muito menos
desistir. É uma forma de contornar uma dificuldade pontual, sem gritar “raios e
coriscos” ou atirar a toalha ao chão. A dificuldade pode resultar por exemplo
do terreno que atravessas, sendo uma prática muito habitual em provas de
trilhos de desnível acentuado ou demasiado técnicas. Também permitirá ao corpo
recuperar de uma eventual indisposição ou de um esforço continuado e árduo.
Terás que aceitar que não és o Carlos Sá. Não receies fazê-lo.
D: Dor
Se o corpo falasse seria tudo mais fácil. Como não
fala (nem grita), manifesta-se através da dor. Quando sentires dor, terá
chegado a altura de parares. Terás naturalmente que aprender a identificar que
dores justificam efetivamente uma paragem. Não vale parar com “dor-de-burro”.
Nessa situação tens apenas que controlar a respiração e fazê-lo de forma mais
pausada e profunda.
E: Evolução
Devagar se vai ao longe. Se estás a iniciar-te na
corrida, corre de forma faseada. Ninguém está preparado para se iniciar na
corrida e fazer uma maratona na semana seguinte. Se queres continuar a correr
para o resto da tua vida, vais querer evoluir de forma estruturada e séria.
Tens todo o tempo do mundo para chegar a voos mais altos.
F: Fartleks
Palavra sueca cuja tradução para inglês é “speed
play”. Como para bom entendedor, meia palavra basta, já se vê que se trata de
correr a diferentes velocidades. É um tipo de treino muito utilizado para
aumentar a resistência e ajudar a desenvolver velocidade. Hoje em dia os termos
“séries” ou “treinos intervalados” são usados de forma mais global,
constituindo treinos mais disciplinados e objetivos. No fartlek, a intensidade,
duração e tipo de terreno são determinados pelo atleta, pressupondo sempre
mudanças significativas de velocidade e de inclinação.
G: Garmin
Que me perdoem todas as outras marcas, mas sou fã da
Garmin e recomendo-a a todos os viciados em serotonina. Estive um ano a correr
sem qualquer relógio. Só o adquiri depois de ter decidido que correria uma
maratona seguindo um plano rigoroso de treinos. Descobri o admirável mundo
novo. Forma fantástica para monitorizarmos a nossa evolução e definirmos novas
metas.
H: Hidratos
Os hidratos de carbono são a principal fonte de
energia para qualquer atleta. Gosto particularmente da referência “combustível
topo de gama” para corredores. Permitem manter os níveis de glicemia estáveis,
fornecendo glucose aos órgãos vitais. Deverás ingerir uma refeição rica em
hidratos de carbono complexos (por exemplo, batata, arroz, massa) 3 a 4
horas antes de correres ou, se isso não for possível, uma merenda (sanduíche ou
barra de cereais integrais), entre 60 a 90 minutos antes da tua corrida.
I: Isotónico
As bebidas isotónicas ou bebidas desportivas são
bebidas constituídas por água, sais minerais e carbohidratos, contendo
composição semelhante ao plasma sanguíneo, facilitando a sua absorção. Foram
desenvolvidas para repor líquidos e sais minerais perdidos com a transpiração
durante um exercício com carga intensa, com a finalidade de prevenir a
desidratação e melhorar o desempenho desportivo. Podem e devem ser consumidas
em corridas ou treinos de duração superior a uma hora. Mas atenção, nada de
abusos! São bebidas ricas em açúcares – os dentes não agradecem – e sódio – podem
aumentar a pressão arterial.
J: Jamor
Um dos poucos locais em Lisboa (perdoem-me os leitores
que não vivem na capital ou perto dela) onde conseguirás disfrutar e conciliar
diferentes tipos de treino. Entre o “tartan”, empedrado, terra batida, trilhos,
plano e “sobe e desce”, terás muito por onde escolher.
L: Lebre
Vais querer arranjar uma quando te propuseres fazer
algo mais ambicioso na corrida. Alcançar uma distância maior ou melhorar o teu
melhor tempo, por exemplo. Conheces a história da lebre e da tartaruga,
correto? Então não preciso de dissertar mais sobre o assunto, sua tartaruga!
M: Músculo
O ser humano possui aproximadamente 639 músculos. A
cada músculo estão associados nervos motores. Será fundamental cuidares bem dos
teus músculos para garantires um bom desempenho na corrida. Para evitares
lesões, deverás seguir os conselhos transmitidos na linha de partida (letra A)
e não descurar a hidratação diariamente. Quanto mais água dentro dos músculos,
maior será a força dos mesmos e, como tal, a tua performance na corrida.
N: No pain, no gain
Chavão inglês, para o qual a língua portuguesa não tem
uma tradução acertada. Traduz a superação da mente sobre o corpo. Ir para além
das adversidades. Sair da zona de conforto. Querer é poder. Independentemente
de tudo, acredita no que te digo. Vais querer ter presente este e outros quotes
motivacionais quando pensares que estás a chegar ao teu limite. Tão válido
quanto uma barra energética.
O: Objetivos
Independentemente do quão longe queiras ir na corrida
ou a forma mais ou menos séria com que a queiras encarar, chegará o dia em que
definirás objetivos. Uma corrida que queiras concluir com sucesso. Um tempo
determinado para cruzares a meta. A função de “lebre” que assumirás para
ajudares um amigo a concretizar o seu sonho. Não
receies defini-los. “Without a goal, it’s difficult to score”.
P: Proteínas
Por serem nutrientes com papel decisivo na
reconstrução muscular e dos ligamentos, as proteínas deverão estar presentes na
dieta de qualquer corredor. Os alimentos proteicos são de digestão mais
demorada pelo que não devem ser consumidos imediatamente antes da corrida, mas
sim com um desfasamento significativo. Procura ingerir fontes de proteína
magras, como carnes brancas, peixe, ovos e laticínios.
Q: Que dificuldade!
Estamos quase no fim. Deves estar cansado. E eu
também. Adicionalmente não me ocorre nada interessante relacionado com corrida
que inicie com a letra “Q”! Ideias?! Segue já para o próximo posto de controlo!
R: Run ‘o teu nome’, Run!
Palavras que ouvirás por parte dos teus amigos não
corredores para te “torrarem o juízo”. Se precisas de ser recordado, o Forest
[Gump] é a célebre personagem interpretada pelo Tom Hanks, que proferiu umas
quantas palavras sábias. “That day, for no particular
reason, I decided to go for a little run. So I ran to the end of the road. And
when I got there, I thought maybe I’d run to the end of town. And when I got
there, I thought maybe I’d just run across Greenbow County. And I figured,
since I run this far, maybe I’d just run across the great state of Alabama. (…)
When I got to another ocean, I figured, since I’d gone this far, I might as
well just turn back, keep right on going”. Não fiques zangado. Só
tens motivos para sorrir. Significa que irás longe. E a correr!
S: Serotonina
A serotonina faz parte de um grupo de
neurotransmissores exercendo um forte efeito sobre o cérebro. Níveis normais
produzirão sensação de bem-estar e níveis muito baixos podem ser causadores de
ansiedade ou depressão. O cérebro produz serotonina como resposta à atividade
física, por forma a relaxar o corpo, protege-lo da dor e provocar sensação de
prazer e bem-estar. A corrida funciona assim como um potente antidepressivo,
sendo que a melhoria do humor por ela proporcionado poderá durar até cerca de
quatro horas! Continua a correr!
T: Trilhos
Com cada vez mais adeptos, este tipo de corrida
privilegia o contacto com a natureza. Se fores corredor amador, os tempos neste
tipo de provas serão seguramente relegados para segundo plano. Quererás
disfrutar com tempo de cada cenário que a natureza te oferecer! Para saberes
mais, consulta http://associacaotrailrunningportugal.pt.
U: Ultra-distância
Qualquer distância acima dos 42.195 metros, distância
oficial de uma maratona. Em Portugal existem variadíssimas ultra-provas, sendo
menos comuns em estrada, mas muito vulgares em montanha, caminhos ou trilhos.
São também as distâncias típicas de provas realizadas em condições extremas, como
sejam a Marathon des Sables ou a Ultramaratona de Gelo Antártica.
V: Vitória
Grita esta palavra cada vez que chegares ao fim,
cruzares a meta ou cumprires o objetivo que havias definido. Estarás
verdadeiramente de parabéns.
X
Salta diretamente para o próximo posto de controlo.
:-)
Z: Zzzzzzzz
A corrida contribui indubitavelmente para um sono de
maior qualidade. A comunidade científica refere mesmo que se trata de uma
“intervenção não-farmacológica para a melhoria do padrão do sono”. Ao regular a
temperatura corporal e os neurotransmissores do nosso cérebro, a atividade
física em geral e a corrida em particular, contribuem para um sono mais
profundo e reparador. Por outro lado, o sono também ajuda na corrida! A
recuperação muscular e celular que ocorre enquanto dormimos é vital para a
nossa (boa) performance na corrida.
Acabas de passar a meta. Parabéns por mais uma prova
superada!
sexta-feira, 8 de março de 2013
Ser Mulher
Estava disposta a deixar passar "em branco" este Dia da Mulher, mas depois de ver este vestido rosa (obrigada José Gonçalves), não resisti.
Ficarei eternamente grata às mulheres que há várias dezenas de anos lutaram para que as mulheres de hoje pudessem usufruir de uma vida melhor. Na conjuntura atual tenho dúvidas quanto aos benefícios do direito de voto, pois coloca-me numa situação complicada – tenho mesmo que votar num destes palhacinhos?
Adiante.
Como sou pródiga em tratar os assuntos com leveza, aqui vai. Adoro ser mulher. Vestidos, saias, calças, saias-calça e calções. Vermelho, rosa, azul, amarelo, verde, branco, preto. Todas as cores são permitidas. Blush, disfarça-borbulhas, sombra, eyeliner, rímel e batôn. Cabelo apanhado ou solto. Apanhado com rabo-de-cavalo (atrás ou ao lado) ou numa trança. Ganchos e elásticos.
Gosto que me segurem na porta e digam “se faz favor”. Gosto que me puxem a cadeira. Que me fechem a porta do carro.
Gosto de ser mulher porque assim também posso ser mãe. Adoro ser mãe.
Podemos ser gestoras, engenheiras ou professoras.
As mulheres podem correr, jogar ping pong, futebol ou ténis. Podem falar de unhas de gel, da má arbitragem ou do último hit musical do momento.
As mulheres podem tudo. E conseguem tudo.
Não trocava “isto” por nada deste mundo. E oxalá todas as mulheres possam ter tanta sorte quanto eu.
segunda-feira, 4 de março de 2013
Potente virose põe meio mundo a correr
Os conteúdos programáticos das licenciaturas em medicina e respetivos manuais, os prontuários terapêuticos e as carreiras médicas vão iniciar brevemente um processo exaustivo de revisão e atualização.
Embora a comunidade científica já desconfiasse desta possibilidade, as certezas intensificaram-se nos últimos meses. Foi identificada uma nova patologia: o vício da corrida!
Se achas que ainda não foste atacado por este potente vírus, deixo-te algumas dicas que te permitirão identificar se estás no grupo de risco desta terrífica virose e se deves resguardar-te desde já.
Um viciado em corrida…
… sorri quando, não estando a correr, avista um corredor a menos de 10 metros e sonha fazer o mesmo;
… ou sorri quando, não estando a correr, pensa avistar um corredor a mais de 500 metros, interrogando-se “porque não sou eu ali?”;
… sai de casa às 6 da manhã para correr, pois é a única hora do dia que tem disponível para o fazer;
… ou sai para a rua às 22 horas para correr, porque não conseguiu alojar o treino em nenhuma outra hora do dia e é impensável deitar-se sem a dose diária de serotonina;
… vive em estado de ansiedade até que chegue domingo, dia típico para realização de provas de competição, sabendo de antemão que nunca subirá ao pódio e muito dificilmente alcançará os primeiros 1.000 lugares da classificação geral;
… imagina-se nas areias da Marathon des Sables ou nos percursos montanhosos do Ultra Trail du Mont Blanc, quando sentado no banco do carro, parado no trânsito caótico ou simplesmente aguardando que o semáforo fique verde;
… proclama “time is running”!
… descobre, onde quer que vá, um lugar fantástico para correr;
… usa siglas indecifráveis para o comum dos mortais quando fala dos seus feitos, conferindo assim um cariz mais profissional – PBT (personal best time), RP (recorde pessoal), PB (personal best), PR (personal record), MMP (melhor marca pessoal), entre outros;
… ouve um novo hit na rádio e de imediato pensa que se trata do “beat” ideal para a série de 400 metros num minuto;
… sempre que vê alguém correr mais depressa, assume de imediato que não correrá uma distância tão longa quanto ele próprio (e sente vontade de o dizer em alta voz);
… inicia qualquer conversa com um desconhecido com um desbloqueador de conversa do tipo “crise financeira”, rapidamente substituído pelo tema “corrida” e a forma como esta lhe salvou a vida;
… anuncia no Facebook que vai correr;
… anuncia no Facebook que já foi correr;
… anuncia no Facebook a distância que correu, a velocidade a que o fez e quantas calorias queimou (há quem converta as calorias em embalagens de Haagen Dazs);
… partilha no Facebook dezenas de parágrafos relatando a última corrida de 8,5 km, não esquecendo nenhum detalhe: frio ou calor, vento ou ameno, à beira rio, perto de casa ou na Serra de Sintra, a dor no tensor da fáscia lata, a contratura na nádega esquerda ou as caimbras no dedo mindinho do pé direito;
… partilha no Facebook a foto dos últimos ténis que acabou de comprar, esperando de volta 1.456 comentários dos amigos a felicitarem-no pela criteriosa seleção (e fica zangado se disserem que foi má opção);
… aprende a conviver com tendinopatias do tendão de Aquiles, luxações e entorses nos tornozelos, fascites plantares e outras maleitas que requerem paragem obrigatória, continuando a correr como se não houvesse amanhã, exclamando “no pain, no gain”!
Chegou o momento do auto-diagnóstico…
Se não te identificas com nenhuma destas situações, estás safo. Podes voltar para o sofá e ver o AXN.
Se porventura já viveste alguma destas situações, tem cuidado. Vais no bom caminho!
Se poderias ser tu em mais de metade das situações, informo, rejubilando: estás viciado!
Para ti, que és viciado na corrida, proponho a integração imediata nos Corredores Maníacos Anónimos.
Não temos muitas cadeirinhas disponíveis mas aconchegamo-nos mais um pouquinho.
De toda a forma não ficamos muito tempo sentados. A terapia é mesmo… Correr!
Bem-vindo!
Embora a comunidade científica já desconfiasse desta possibilidade, as certezas intensificaram-se nos últimos meses. Foi identificada uma nova patologia: o vício da corrida!
Se achas que ainda não foste atacado por este potente vírus, deixo-te algumas dicas que te permitirão identificar se estás no grupo de risco desta terrífica virose e se deves resguardar-te desde já.
Um viciado em corrida…
… sorri quando, não estando a correr, avista um corredor a menos de 10 metros e sonha fazer o mesmo;
… ou sorri quando, não estando a correr, pensa avistar um corredor a mais de 500 metros, interrogando-se “porque não sou eu ali?”;
… sai de casa às 6 da manhã para correr, pois é a única hora do dia que tem disponível para o fazer;
… ou sai para a rua às 22 horas para correr, porque não conseguiu alojar o treino em nenhuma outra hora do dia e é impensável deitar-se sem a dose diária de serotonina;
… vive em estado de ansiedade até que chegue domingo, dia típico para realização de provas de competição, sabendo de antemão que nunca subirá ao pódio e muito dificilmente alcançará os primeiros 1.000 lugares da classificação geral;
… imagina-se nas areias da Marathon des Sables ou nos percursos montanhosos do Ultra Trail du Mont Blanc, quando sentado no banco do carro, parado no trânsito caótico ou simplesmente aguardando que o semáforo fique verde;
… proclama “time is running”!
… descobre, onde quer que vá, um lugar fantástico para correr;
… usa siglas indecifráveis para o comum dos mortais quando fala dos seus feitos, conferindo assim um cariz mais profissional – PBT (personal best time), RP (recorde pessoal), PB (personal best), PR (personal record), MMP (melhor marca pessoal), entre outros;
… ouve um novo hit na rádio e de imediato pensa que se trata do “beat” ideal para a série de 400 metros num minuto;
… sempre que vê alguém correr mais depressa, assume de imediato que não correrá uma distância tão longa quanto ele próprio (e sente vontade de o dizer em alta voz);
… inicia qualquer conversa com um desconhecido com um desbloqueador de conversa do tipo “crise financeira”, rapidamente substituído pelo tema “corrida” e a forma como esta lhe salvou a vida;
… anuncia no Facebook que vai correr;
… anuncia no Facebook que já foi correr;
… anuncia no Facebook a distância que correu, a velocidade a que o fez e quantas calorias queimou (há quem converta as calorias em embalagens de Haagen Dazs);
… partilha no Facebook dezenas de parágrafos relatando a última corrida de 8,5 km, não esquecendo nenhum detalhe: frio ou calor, vento ou ameno, à beira rio, perto de casa ou na Serra de Sintra, a dor no tensor da fáscia lata, a contratura na nádega esquerda ou as caimbras no dedo mindinho do pé direito;
… partilha no Facebook a foto dos últimos ténis que acabou de comprar, esperando de volta 1.456 comentários dos amigos a felicitarem-no pela criteriosa seleção (e fica zangado se disserem que foi má opção);
… aprende a conviver com tendinopatias do tendão de Aquiles, luxações e entorses nos tornozelos, fascites plantares e outras maleitas que requerem paragem obrigatória, continuando a correr como se não houvesse amanhã, exclamando “no pain, no gain”!
Chegou o momento do auto-diagnóstico…
Se não te identificas com nenhuma destas situações, estás safo. Podes voltar para o sofá e ver o AXN.
Se porventura já viveste alguma destas situações, tem cuidado. Vais no bom caminho!
Se poderias ser tu em mais de metade das situações, informo, rejubilando: estás viciado!
Para ti, que és viciado na corrida, proponho a integração imediata nos Corredores Maníacos Anónimos.
Não temos muitas cadeirinhas disponíveis mas aconchegamo-nos mais um pouquinho.
De toda a forma não ficamos muito tempo sentados. A terapia é mesmo… Correr!
Bem-vindo!
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