Frustração s.f. Ação de frustrar.
Psicanálise: Estado do indivíduo que, por não ter satisfeito um desejo ou tendência fundamental, se sente recalcado: complexo de frustração.
Eventualmente a Corrida das Fogueiras e os amigos que me acompanharam não terão as palavras que merecem porque a minha cabeça estava num outro lado. As minhas desculpas por isso.
Mas, se decidi escrever e partilhar as minhas experiências na corrida, tenho que o fazer de forma genuína.
Neste caso tinha duas hipóteses.
Não escrever e ficava o assunto arrumado.
Escrever e... escrever como sei. Assim.
Frustração, Susana?! Porquê?
Porque se o mundo fosse perfeito, neste momento estaria a escrever sobre a demoníaca experiência vivida na Serra da Freita. Sobre o calor que havia enfrentado. Sobre as subidas que me tinham deixado um nó no estômago. Estaria a escrever sobre aquela coisa a que chamam de "besta".
Estaria também a justificar porque não tinha chegado aos 70 km - a meta, portanto. Mas estou certa que estaria a relatar aquilo que o meu coração genuinamente teria gostado de fazer.
Porque não estive lá, perguntarão? Porque, simplesmente, me lembrei que se calhar podia tentar... tarde demais.
Tento convencer-me que a serra ainda está lá e, a menos que se dê um qualquer movimento tectónico inesperado, poderá esperar por mim em 2014.
Voltemos às Fogueiras
Há vários meses que estou inscrita na corrida. O ano passado tinha-me inscrito, mas acabei por não ir. Este ano tinha que experimentar aquela que dizem ser das corridas de estrada mais bonitas e míticas de Portugal.
Segui num grande grupo (grande no sentido de numeroso e grandioso!) do Portugal Running. O Miguel - grande dinamizador - tratou de arranjar uma carrinha para todos.
Porque não estava nos melhores dias, sentei-me no banco da frente. Sim, aquele que nas visitas de estudo da escola estava reservado aos "nerds", lembram-se? Lá atrás era sempre muito mais divertido. A galhofa era garantida!
E assim foi. Depois de várias insistências de amigos perguntando o que tinha, lá fui respondendo que era "sono", "calor", por aí fora. Cá dentro, sei bem que o problema se chamava Serra da Freita.
Chegados ao local, recolhemos os dorsais e iniciámos os preparativos. Há muito que não via tanto atleta reunido. Na montanha somos menos, muito menos!
A corrida
Valeu ir a Peniche pelo troço junto ao mar, ladeado de fogueiras. Diz quem já fez a corrida que este ano eram menos... as fogueiras. Mas muitos mais atletas.
Valeu também pelo apoio e palavras de incentivo das gentes locais, que se distribuíram ao longo dos 15 km festejando a passagem dos corredores. Neste ponto tenho que referir que adoro ser mulher. E é bom ser mulher num desporto onde a maioria é ainda do sexo oposto. Quando uma mulher passa, as outras mulheres, aquelas que gritam palavras de apoio, gritam mais alto. E, pasmem-se, se sorrirmos (coisa difícil na minha pessoa, como se sabe), gritam ainda mais alto.
Pois bem... fartei-me de sorrir e, em resposta, os apoiantes gritaram ainda mais alto. Ter-se-á desencadeado um qualquer fenómeno físico, pois corri como nunca havia corrido.
Quando dei conta, as minhas passadas eram enormes! Eu que corro como os pintassilgos, estava de facto a... correr!
Falando à moda da "malta da estrada", quase bati o meu PBT aos 10 km (menos de um minuto de diferença, creio) e bati seguramente o meu melhor tempo aos 15 km.
Cheguei exausta, claro. Afinal, na estrada, vesti outro papel - que não é o meu - e que se traduz em chegar o mais rápido possível do ponto A ao ponto B.
No final, este numeroso e grandioso grupo do Portugal Running partilhou um grande repasto, onde nada faltou. Confesso que perdi demasiado tempo no banho - porque não o tive durante a prova (!) -, pelo que terei perdido seguramente a melhor parte do convívio.
Redimir-me-ei da próxima vez com as minhas trufas de chocolate!
Pai, fiz o que me pediu!
Há 5 meses para cá que o meu pai me pede quase diariamente para fazer provas com menos quilómetros. "Essas provas intermináveis fazem-te mal, Susana. Podes não o sentir agora, mas senti-lo-ás mais tarde, quando tiveres a minha idade, é certo", alerta-me o meu pai a toda a hora. "Porque não desistes de investir na distância e te concentras antes em fazer as corridas mais rápido?", tem sugerido o meu pai.
Pois bem, pai. Ontem fiz o que me pediu. Corri pouco e rápido! Tão rápido quanto pude!
Mas o que eu gosto mesmo é de outra coisa.
Eu gosto de quilómetros, muitos!
E gosto de os palmilhar correndo, andando e banhando-me quando posso!
Eu não gosto de alcatrão. Gosto de pedras, cascalho e folhinhas. Gosto da companhia das árvores, dos cheiros e da luz que só há na montanha.
E, por isso pai, assim que possa, voltarei para lá!
Psicanálise: Estado do indivíduo que, por não ter satisfeito um desejo ou tendência fundamental, se sente recalcado: complexo de frustração.
Eventualmente a Corrida das Fogueiras e os amigos que me acompanharam não terão as palavras que merecem porque a minha cabeça estava num outro lado. As minhas desculpas por isso.
Mas, se decidi escrever e partilhar as minhas experiências na corrida, tenho que o fazer de forma genuína.
Neste caso tinha duas hipóteses.
Não escrever e ficava o assunto arrumado.
Escrever e... escrever como sei. Assim.
Frustração, Susana?! Porquê?
Porque se o mundo fosse perfeito, neste momento estaria a escrever sobre a demoníaca experiência vivida na Serra da Freita. Sobre o calor que havia enfrentado. Sobre as subidas que me tinham deixado um nó no estômago. Estaria a escrever sobre aquela coisa a que chamam de "besta".
Estaria também a justificar porque não tinha chegado aos 70 km - a meta, portanto. Mas estou certa que estaria a relatar aquilo que o meu coração genuinamente teria gostado de fazer.
Porque não estive lá, perguntarão? Porque, simplesmente, me lembrei que se calhar podia tentar... tarde demais.
Tento convencer-me que a serra ainda está lá e, a menos que se dê um qualquer movimento tectónico inesperado, poderá esperar por mim em 2014.
Voltemos às Fogueiras
Há vários meses que estou inscrita na corrida. O ano passado tinha-me inscrito, mas acabei por não ir. Este ano tinha que experimentar aquela que dizem ser das corridas de estrada mais bonitas e míticas de Portugal.
Segui num grande grupo (grande no sentido de numeroso e grandioso!) do Portugal Running. O Miguel - grande dinamizador - tratou de arranjar uma carrinha para todos.
Porque não estava nos melhores dias, sentei-me no banco da frente. Sim, aquele que nas visitas de estudo da escola estava reservado aos "nerds", lembram-se? Lá atrás era sempre muito mais divertido. A galhofa era garantida!
E assim foi. Depois de várias insistências de amigos perguntando o que tinha, lá fui respondendo que era "sono", "calor", por aí fora. Cá dentro, sei bem que o problema se chamava Serra da Freita.
Chegados ao local, recolhemos os dorsais e iniciámos os preparativos. Há muito que não via tanto atleta reunido. Na montanha somos menos, muito menos!
A corrida
Valeu ir a Peniche pelo troço junto ao mar, ladeado de fogueiras. Diz quem já fez a corrida que este ano eram menos... as fogueiras. Mas muitos mais atletas.
Valeu também pelo apoio e palavras de incentivo das gentes locais, que se distribuíram ao longo dos 15 km festejando a passagem dos corredores. Neste ponto tenho que referir que adoro ser mulher. E é bom ser mulher num desporto onde a maioria é ainda do sexo oposto. Quando uma mulher passa, as outras mulheres, aquelas que gritam palavras de apoio, gritam mais alto. E, pasmem-se, se sorrirmos (coisa difícil na minha pessoa, como se sabe), gritam ainda mais alto.
Pois bem... fartei-me de sorrir e, em resposta, os apoiantes gritaram ainda mais alto. Ter-se-á desencadeado um qualquer fenómeno físico, pois corri como nunca havia corrido.
Quando dei conta, as minhas passadas eram enormes! Eu que corro como os pintassilgos, estava de facto a... correr!
Falando à moda da "malta da estrada", quase bati o meu PBT aos 10 km (menos de um minuto de diferença, creio) e bati seguramente o meu melhor tempo aos 15 km.
Cheguei exausta, claro. Afinal, na estrada, vesti outro papel - que não é o meu - e que se traduz em chegar o mais rápido possível do ponto A ao ponto B.
No final, este numeroso e grandioso grupo do Portugal Running partilhou um grande repasto, onde nada faltou. Confesso que perdi demasiado tempo no banho - porque não o tive durante a prova (!) -, pelo que terei perdido seguramente a melhor parte do convívio.
Redimir-me-ei da próxima vez com as minhas trufas de chocolate!
Pai, fiz o que me pediu!
Há 5 meses para cá que o meu pai me pede quase diariamente para fazer provas com menos quilómetros. "Essas provas intermináveis fazem-te mal, Susana. Podes não o sentir agora, mas senti-lo-ás mais tarde, quando tiveres a minha idade, é certo", alerta-me o meu pai a toda a hora. "Porque não desistes de investir na distância e te concentras antes em fazer as corridas mais rápido?", tem sugerido o meu pai.
Pois bem, pai. Ontem fiz o que me pediu. Corri pouco e rápido! Tão rápido quanto pude!
Mas o que eu gosto mesmo é de outra coisa.
Eu gosto de quilómetros, muitos!
E gosto de os palmilhar correndo, andando e banhando-me quando posso!
Eu não gosto de alcatrão. Gosto de pedras, cascalho e folhinhas. Gosto da companhia das árvores, dos cheiros e da luz que só há na montanha.
E, por isso pai, assim que possa, voltarei para lá!