quarta-feira, 7 de maio de 2014
Até já, lindo Marão!
Sei que sonhava chegar ao Km 25 quando tirei esta foto.
Estava calor e a minha boca pedia mais que água. Queria coca-cola.
Olhei para este moinho de vento - gosto mais desta designação do que a de eólica - e pensei... "caramba, hoje vocês estão mais lentos do que eu!".
E estavam. Mal mexiam. Eu ainda tentava correr um pedacinho quando o terreno aplanava ou descia.
Um pouco adiante deste local liguei ao meu pai.
Costumo fazê-lo para dizer como estão a correr as coisas e tentar tranquilizá-lo. Anunciei que estava exausta e ficaria pelo abastecimento seguinte, que acabou por surgir ao Km 29.
"Olha os teus filhos, Susana!", respondeu ele, sabendo que desta forma me pede subtilmente para ter algum tino na cabeça.
O meu pai não tem que se preocupar porque eu já sei que vou chegar a velhinha.
Por mais disparates que faça, os astros já o disseram. Vou ser uma velhinha rija e cheia de saúde.
Ainda falava com o meu pai quando ouvi alguém atrás de mim. Volto-me e "perco o pio". A uma velocidade estonteante passava o Óscar Perez, acompanhando do cachorro que por tantos kms correu a seu lado.
Só me lembro de dizer "valente" e "parabéns".
O meu pai perguntou-me do lado de lá o que se passava. "Ó pai, acaba de passar por mim o primeiro atleta dos 125 km (seriam 140, afinal)", respondi eu.
No Marão não consegui ir além do Km 29. Há dias assim.
O Marão é lindo e, tal como já disse dezenas de vezes nos últimos dias, lá voltarei.
O Óscar Perez, por seu lado, foi bem mais além, chegou ao fim e escreveu isto.
A leitura destas palavras fez-me arrepiar e querer continuar.
Continuar por aí, monte fora, lenta, menos lenta, como for. Sabendo que atrás de mim apenas correm os vassouras. Não faz mal.
Ao meu estilo, tenho em mim o "espírito da montanha".
É coisa pequenina, eu sei, mas já cá mora.
A todos os que lá estiveram, chegaram ao fim ou foram o mais longe que puderam... parabéns.
Em jeito de nota final, e antes ainda das palavras sábias do Óscar Perez, quero que saibam que o cachorro regressou comigo à meta de carro. Todos acreditámos que ele seguiria ao lado do Óscar. A simpática equipa de voluntários ao Km 29 nutriu-o mas não permitiu que seguisse. E agiu muito bem.
(...) Es entonces, creo, cuando nos volvemos jueces de galaxias sin leyes y colocamos en la balanza todo aquello que nos supera y nos aleja en la mayoría de casos del famoso concepto "Finisher".
Y en esas galaxias lejanas nos volvemos más marcianos que los marcianos y, nos olvidamos de paisajes, de pueblos, de senderos, de luces y sombras milenarias, y de un largo etcétera... tan amplio como la imaginación de quien trazo el recorrido, tan amplio y largo en este caso, como el mismo río Duero.
Despegamos hacia galaxias incógnitas y nos olvidamos de la Tierra y dejamos de pisar en ella.
Nos olvidamos donde estamos, de la montaña y lo que representamos en ese atmósfera. Todo por un "Concepto Finisher" que nos hizo olvidar si verdaderamente deberiamos estar ahí.
Seguramente, como en otros casos, la organización cambiará y rectificará muchos detalles y conceptos para la siguiente edición.
Pondrá agua y comida donde faltó y contabilizará bien los kilómetros. Pero el espíritu de la montaña es algo que no se agota y mucho menos se contabiliza y, quien no pueda entender porque corremos campo a través cuando a escasos metros se dibuja una magnífica pista para hacerlo, no conseguirá hacerlo por muchos viajes siderales al planeta "Finisher" haya realizado.
Por eso, deseo y confio en los cambios. Pero NO toquéis, NO cambiéis por favor la actitud y aptitud de tod@s los que hicieron posible correr por y para la montaña.
Por eso, doy las Gracias a tod@s que directamente o indirectamente hicieron posible el UT MARÃO con ese concepto. Acercarnos a la montaña y olvidarnos de lo contrario.
El agua la encontraréis en muchos otros sitios, pero lo anterior, cada vez escasea más.
Óscar Perez, vencedor do Ultra Trail do Marão, em Maio de 2014.
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"É coisa pequenina, eu sei, mas já cá mora." - e de coisas "pequeninas" que "cá moram" nos tornamos Grandes!
ResponderEliminarÉ como dizes...há dias assim... Importa é estares Bem e ficares bem, ao fim de 29 km, de 50 km, de 100 km, do que for.
Beijinhos e boa recuperação
Obrigada "Maria"!
EliminarFiquei bem, estou bem... é como dizes!
Beijo grande.
Parabéns, Susana, pela crónica - belíssima crónica -, pelo espírito de montanha, que de pequeno não tem nada e por todo o apoio durante toda a prova. Continua a sorrir e a espalhar as tuas belíssimas gargalhadas, e a desfrutar da montanha com esse prazer que tanto demonstras. Os vassouras vão agradecer. Eu fiz vassoura dos primeiros 40 km da prova grande, e garanto-te, que se fosse contigo ainda hoje lá estava.
ResponderEliminarBeijo grande!
Vamos lá então, vassoura? :-)
EliminarAgradeço e retribuo o beijo grande!
Sempre sábias palavras e obrigado pela partilha do escrito do vencedor.
ResponderEliminarBoa recuperação!
Bj
Nada que agradecer, Paulo!
EliminarSou eu quem te agradece.
Beijo!
Após uma bela Prova como a da Madeira, só podias fazer o empeno total do Marão... :) Tinhas começado à meia noite pela fresquinha, e qd o dia nascesse já estavas com + de 60 km!!! A adrenalina tb teria sido completamente diferente!!! Recuperação rápida e tudo de bom.
ResponderEliminarE não é que poderás ter razão, Mauro?
EliminarFicaria seguramente pelo caminho, mas teria usufruído do fresquinho da noite (brrrrrrr!) e visto o nascer do Sol!
Fica bem, beijinho!