Às vezes tenho saudades dos tempos em que me cabia no
antebraço, barriga para baixo, cabeça encostada na palma da minha mão,
esperando poder resolver as cólicas que a atormentavam (e pouco ou nada
resolvia, mas valia pelos segundos em que acalmava).
Às vezes tenho saudades dos tempos em que toda ela eram
faróis azuis, os olhos maiores do que tudo o resto, mais azuis ainda quando a
vestia de azul (e estão agora ainda mais bonitos, mas já não sei bem de que cor
são, depende dos dias).
Também tenho saudades dos tempos em que podia escolher
vestidos, frufrus e outras coisinhas pirosas (e não a ouvia resmungar com
isso).
Tenho saudades da primeira sopa, que desastre aquela
primeira sopa, chorámos as duas (e agora come tudo o que é verde e tomate como
quem come cerejas).
Às vezes tenho saudades de a ver pequenina, no berço, no
carrinho, no andarilho, no parque ou em qualquer outro sítio onde não me
pudesse fugir (e é certo que me vai fugir um dia).
Às vezes tenho saudades das músicas de embalar da Sara
Tavares, das canções tontas da Carochinha, de bater palminhas nas festas da
escola, com aquele sorriso parvo de quem tem a certeza que tem a melhor filha
do mundo (e todas as mães a têm).
Às vezes tenho saudades destes 12 anos que já me deu, nos
deu, carregados de doçura (oxalá nunca perca esta doçura, dizem que é doce de
Sagitário, o mais doce do Zodíaco).
Daqui a uns anos terei saudades dos recadinhos no papel, dos
beijos de bom dia e de boa noite, dos “até logo” quando vai para a escola, dos
“olá” quando regressa, de todos os beijos-porque-sim que nunca se esquece de
dar (e que nunca são demais).
Vou ter também saudades que me explique o que significam
expressões como "bugados", "bem podre" e coisas que tais
(para concluir que estou de facto muito “bugada”).
Mas que coisa boa e rica esta de ver uma filha crescer!