Louco: adj. Diz-se daquele que perdeu a razão; alienado, doido, maluco. Insensato, temerário, estróina. Furioso, alucinado. Perturbado, dominado por violenta emoção: ficou louco de alegria. Intenso, vivo, violento: amor louco. Absurdo, contrário à razão: projeto louco.
Alguns já se vão habituando aos meus longos testemunhos, resultado da acumulação de provas e kms, sempre em modo lento, claro, para tudo melhor disfrutar!
Esta tarefa – escrever – é tanto mais fácil quanto mais longa é a partilha com a serra. Adoro passar horas a fio com ela e, geralmente, quando a deixo, já tenho título e argumento para o meu escrito. Não sei se preciso de correr para escrever ou escrever para correr. Creio que uma coisa alimenta a outra. E vice-versa.
As provas mais curtas não deixam de ser encantadoras, e acabo por sentir esta necessidade de deixar duas palavras de reconhecimento para com quem as organiza. Vivemos num mundo onde é tão fácil criticar. Os elogios, esses, pagam-se a peso de ouro. Deixo-os aqui gratuitamente. E de forma mais que merecida, claro!
O que é isso dos trilhos loucos?
Nunca eu fui tão “às escuras” para uma prova. Quantos kms? Qual o desnível? Que serra vou subir? Quantos abastecimentos? Mais… onde fica mesmo essa coisa chamada Reixida? “Leia o regulamento”, dizem! Mas… qual regulamento?!
6.30 AM. Sento-me no banco de trás do carro e sou conduzida durante 150 km pelo piloto Pedro e co-piloto Ricardo. Sabe tão bem não fazer nada! E a seguir descansar. “Infelizmente”, fui lá para correr.
A loucura – parte 1
Chegados ao destino dirigimo-nos à associação lá da terra para levantar os dorsais. E que surpresa tenho reservada para mim? Dois dorsais. “Menina, é só escolher. 247 ou 213!”. Escolho a segunda opção. Fica por saber se me inscrevi duas vezes ou se as gentes desta organização são mesmo tão loucas que me atribuíram dois dorsais.
Os suspeitos do costume
Se há coisa que me agrada nesta vida de montanha – uns correm, outros pastoreiam, como eu – é rever os suspeitos do costume. Uns estiveram nos Trilhos dos Abutres, outros na Arruda dos Vinhos, outros nos Trilhos do Pastor, outros nos Ultra-Trilhos de Sesimbra (e eu até os ultrapassei, vejam só!), outros em São João das Lampas, outros em São Mamede, outros ainda em Vila de Rei. Mas há um núcleo mais ou menos alargado cujas caras já vou reconhecendo, de quem sei o nome, se correm muito ou assim-assim, que loucuras fazem na corrida e por aí fora.
Gosto do “tu cá tu lá” da montanha. Na montanha não há doutores, professores ou engenheiros. Gosto de chegar aos abastecimentos e deparar-me com a dificuldade de decidir se como primeiro a banana ou a marmelada. Já agora, podem incluir queijo, também? Sou meia-do-norte e é das melhores sobremesas que há!
Agrada-me poder usufruir da companhia de quem corre ao meu ritmo a cada momento – e, a verdade é que, mesmo numa prova de 21 km, foram tantos os ritmos e as companhias (mas também a ausência dela que sabe tão bem!), que o modo “enfado” se assume como uma verdadeira impossibilidade!
Desta vez tive a companhia de Lisboa, mas também da auto-designada comitiva alentejana (o “alto” e o ”baixo” Alentejo!) e sei lá de que regiões mais!
Os trilhos
Ora bem. Não corri à velocidade da luz. Nem bati o meu PBT aos 21 km. Não vos direi que subi paredes onde supliquei pelos meus bastões. Nem que as descidas me custaram ainda mais aos joelhos do que as subidas. Também não vou referir que adorei os trilhos onduladinhos. E os estradões. E os moinhos de vento. Ai, os moinhos de vento que dançam e dançam! E o banhinho na nascente? E os mergulhos no Lis? Devo ser arraçada de peixe!
Também vou omitir que dois alentejanos que vinham em amena cavaqueira me fizeram escorregar e ”cair de rabo”. Não uma, mas duas vezes! Um deles lá se redimiu, oferecendo-me mais tarde uma ameixa ultra-doce que apanhou numa árvore que estava no sítio certo do trilho que percorríamos. O “outro” alentejano está também perdoado. Apenas porque tem o nome do meu mano. E porque teve a gentileza de me indicar qual a sua viatura para que nela possa desenhar o já anunciado “S” de Susana no capot.
No meio da loucura da Reixida, aprendi duas coisas…
Nenhuma prova é demasiado curta para usar os bastões…
Usar sempre o camelback em detrimento dos cintos “Lara Croft” que só atrapalham. “Despachei” literalmente o meu aos 4 km. Fiquei de o recuperar na meta, mas já nem me lembrei dele. O simpático senhor da organização que fez o favor de o guardar faça bom uso dele!
A massagem depois do banho e do almoço (maravilhoso, por sinal!)
Esqueçam os luxuosos SPAs. Esqueçam essas salas lindinhas, a meia luz, com cheirinho a incenso e música zen.
As melhores massagens acontecem numa garagem da Reixida, pelas mãos, perdão, tenazes, do Nuno. É Nuno, não é Anabela?
Enquanto aguardava pela minha vez, duas meninas seguiram na frente. Contorceram-se, gritaram, quase espernearam. Pensei para comigo “que fiteiras, que disparate, que tontas”!
Pois bem. Pela boca morre o peixe. E eu mordi um anzol do tamanho do mundo. Para não chorar desatei a gargalhar e enterrei a cabeça na marquesa. Uma coisa é certa – 24 horas depois estou fina como nunca estive!
The End
Srs. organizadores dessa coisa linda que são os Trilhos Loucos da Reixida: são loucos mas não perderam a razão! Ganharam-na!
E ganharam também mais uma fã-louca dos vossos trilhos!
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