A minha filha Inês tem 7 anos. Gosto desmesuradamente
da Inês. Quem não conhece as gargalhadas da Inês não sabe o que perde.
Conseguiriam fazer gargalhar a mais triste das almas deste planeta.
Diz quem me conheceu em pequena que a Inês é um clone
da mãe. Eu própria o verifico nas fotos de ambas. E lembro-me de mim assim.
Como a vejo. Mas não sou daquelas mães que quer ver a filha crescer à sua
semelhança. Nada disso. Quero que seja ela própria, o melhor que souber. Pode
ser antropóloga, professora, economista, o que quiser. Neste mundo de
incertezas, é cada vez mais difícil prever onde estará o melhor futuro.
A Inês chama-se Inês porque eu não tive a mesma sorte.
Era o nome escolhido pela minha mãe quando soube que esperava uma menina. No
entanto, uma prima da minha mãe antecipou-se e teve a sua bebé primeiro, a quem
chamou Inês. Grande azar o meu. Para mim sobrou o nome "Susana".
Teria adorado ser Inês.
Ontem, quando questionada pela catequista quanto à
profissão da mãe, a Inês terá respondido "atleta". Reconheço que para
além de trabalhar no Aeroporto de Lisboa, faço muitas outras coisas. Mas
"atleta" não faz parte da minha lista de valências. Adoro correr, é
certo. Mas não sou atleta. Atleta, diz-nos o dicionário, é o "profissional
dos desportos (preferencialmente atléticos) e das atividades físicas".
Onde encaixo aqui? Em lado nenhum. Logo, não sou atleta. De toda a forma, longe
de mim contrariar a Inês nesta fase. Vê-me sair para correr, vê-me chegar a
casa com medalhas (participação, claro) e ouve meio mundo dirigir-se à mamã
dizendo "então atleta, essas corridas?".
Hoje entrou no carro depois da escola dizendo que já
tinha feito os trabalhos de casa. Uma composição cujo tema era "a minha
profissão preferida". "E que profissão escolheste tu, Inês?",
perguntei. A resposta... "Atleta". Ri-me, claro está. Entretanto, já
em casa, fui buscar o caderno. O objetivo era verificar eventuais erros
ortográficos e alertar a Inês para o facto. E, claro, procurar saber os motivos
que levavam a Inês a escolher a profissão que pensa ser a da mãe. Sorri. Espero
que a Inês não me leve a mal a inconfidência, mas vou partilhar algumas das
suas palavras. "(...) E assim apareço nos jornais e na televisão. E se for
a primeira ganho uma medalha. E assim batem palmas. (...) E se eu ganhar o campeonato
posso ficar campeã. Posso falar ao microfone. E se eu ganhar flores?
(...)". Depressa concluí que a Inês não será uma atleta no futuro. Tenho
aqui uma artista!
Daqui a 4 dias parto uma vez mais para a Serra da
Lousã. Tenho um assunto a resolver com a serra, que ficou pendente em novembro
último, quando fiz os meus primeiros 30 km de trilhos à séria. Ao contrário do
que desejava, não me estrearei na mítica distância, a ultra. Para quem não
sabe, qualquer distância superior a 42.195 m. A minha condição física
obrigou-me a fazer "downgrade" para os 23 km. Adicionalmente,
pasmem-se, tive medo da ultra. Comecei a ouvir falar de mantas de
sobrevivência, apitos, neve, gelo e coisas que tais e estremeci. Não tenho
correntes para colocar nos ténis. Nos 23 km não subirei tanto. E terei tempo
para o meu esperado "tête-a-tête" com aquela magnífica serra.
E porque falo dos Trilhos dos Abutres? Porque sei que a Inês vai adorar rever-me aquando do meu regresso. A Inês perdeu recentemente os dois incisivos centrais de leite, Quem sabe fiquemos ainda mais parecidas!
E porque falo dos Trilhos dos Abutres? Porque sei que a Inês vai adorar rever-me aquando do meu regresso. A Inês perdeu recentemente os dois incisivos centrais de leite, Quem sabe fiquemos ainda mais parecidas!
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