Aqui estou eu a apresentar o meu primeiro dueto. Dueto na escrita, claro.
Seria impossível equacionar a possibilidade de uma corrida em que eu e o Zé tivéssemos cortado a meta ao mesmo tempo. Certo é que, passados alguns meses de colaboração para o este seu blogue “De Sedentário a Maratonista”, esta é a primeira vez que nos cruzamos na mesma prova: no Trail do Almonda.
“Escreves tu? Escrevo eu?”, questionámo-nos. Bem… “Escrevemos os dois!”, decidimos.
Eu farei o relato em modo lento. O Zé, claro está, em modo rápido!
Senhoras primeiro, mesmo nas corridas!
Correr com amigos
Estou feliz por ter chegado ao fim. Em vários momentos pensei que teria de dar por concluída a minha prestação, mas os “companheiros de viagem” cuidaram de mim. “À bruta”, claro, mas cuidaram!
Não havia feito quaisquer planos e creio que a Ana e o Ricardo também não. Quis a Serra D’Aire e Candeeiros que a percorrêssemos juntos e assim aconteceu.
Afastada há algum tempo das corridas, a Ana foi uma autêntica guerreira e assumiu a figura de lebre em diversas ocasiões. O Ricardo presenteou-nos com as suas preciosas dicas e puxou pelas “miúdas” nos outros momentos. Já eu… bem, eu tive o que pedi há uma semana atrás – a serra!
Para verem como sou efetivamente rápida, nos primeiros quilómetros da prova passou por mim um corredor que presumo me conheça destas andanças. Lá seguia eu, no meu ritmo, em jeito de trote, envergando o meu equipamento “Anna Frost“. “És um bluff, és um bluff!”, exclamou ele, rindo. Fugiu tão rápido (receando represálias, presumo!), que não tive tempo de responder que se não fosse o equipamento “Frostie”, seria ainda mais lenta!
Podemos não falar do calor?
Se falarmos sobre o calor que se fez sentir, com temperaturas acima dos 40 ºC, todo o relato do Trail do Almonda sairá penalizado. Sim, porque o calor foi efetivamente terrífico e custou a continuação em prova a muitos atletas. Aqueles a quem não compremeteu a sua conclusão, garantiu que seria de uma dureza extrema até cortar a meta. No fundo, tivémos sorte. Afinal, afinal, este é o verão mais frio dos últimos 200 anos, garantiu um canal de meteorologia francês!
Caminhos tortuosos, mas lindos!
Conheci esta serra nos Trilhos do Pastor no início do ano. Na altura, “Corri com o Ludovico Einaudi“, lembram-se?
É uma linda serra, caracterizada pela dureza dos seus caminhos, carregadinhos de pedra e pelas paisagens áridas. A pedra foi muita, como se esperava, mas ainda assim, o percurso foi-nos oferecendo diferentes pisos, paisagens variadas, subidas e descidas, estradões e single tracks. Por várias vezes me foi permitido gozar aqueles trilhos onduladinhos, de que tanto gosto. Não sobe muito. Não desce demasiado. São divertidos! Como sempre, lá nos cruzámos com um marco geodésico e com as antenas. Imagens de marca dos trilhos, pois claro!
Sempre com o sol a brindar-nos (“torrar-nos” seria a palavra adequada) com os seus raios, foram poucos os momentos de sombra. Lá surgiam uns trilhos mais “fechadinhos”, com mais vegetação, mas geralmente eram acompanhados de subidas de pendente acentuada, pelo que a “frescura” não se fazia sentir!
Diverti-me particularmente a descer um extenso trilho, a que o amigo Pedro Quina baptizou de “secador”. Uma longa descida, cerca do km 24, que se prolongava por várias centenas de metros. Vegetação cerrada, pedra, muita pedra, mas daquela que nos permite saltar (como a Frostie!) e encaixar o pé com segurança. Senti-me mais confiante e lá me aventurei descendo com toda a velocidade que me era permitida – câmara lenta, portanto!
Tudo corria bem até entrar no filme “Como treinares o teu dragão”. Eu era a Astrid (a menina vicking, conhecem?) e levava comigo as minhas duas espadas (os comuns mortais apelidam-nas de bastões). Saltitando entre as pedras, procurava incessantemente o “Fúria da Noite”! É um dragão muito dócil, como se sabe, mas adora brincar com o fogo. E assim aconteceu – fui engolida por aquela labareda de fogo e calor do “Fúria da Noite” que se escondia algures. Que dragão aquele!
Entretanto a Ana e o Ricardo afastam-se um pouco e vou correndo em modo “Susana”, por conta própria. Passo por um bombeiro que me incentiva a continuar dizendo “está quase, mostre lá aos homens como é”! Desatei a “sprintar”, claro.
Água e melancia!
Quem já me conhece um pouco sabe que a real motivação para me manter neste tipo de provas consiste em chegar ao “banho” seguinte. Infelizmente o percurso do Trail do Almonda não nos brindou com nenhum curso de água.
Mas… o calor (aquele que referi acima que não iria mencionar) perseguia-nos e tínhamos que resolver o problema a cada abastecimento. A cada 5 km, portanto. Foram autênticas regas. Mais para o final, eu, a Ana e o Ricardo já estávamos perfeitamente sincronizados. A Ana molha a Susana, a Susana molha o Ricardo, o Ricardo molha a Ana. Água no boné, borrifos de água termal da Avène e rega integral com a garrafa da Ana, que rapidamente deixou de acondicionar a bebida isotónica para merecer o título de regador oficial deste trio! A técnica estava de tal modo apurada, que nos valeu as felicitações de um dos membros da organização, que nos rotulou como os “mais simpáticos” que por ali tinham passado!
A cada 5 km foi também tempo de… melancia! “Embarriguei” melancia para todo este verão e o do ano que vem!
Quase, quase no fim
Os “está quase” com que somos incentivados pelos membros da organização – uma simpatia, de resto – são sempre de natureza duvidosa neste tipo de provas.
Os “está quase” pressupõem sempre que temos mais 3 km pela frente, que parecerão ser 10, simplesmente pelo facto que ficaremos sempre com a sensação que estamos ao lado da meta mas que nos empurram no sentido contrário!
E assim foi! Depois do mimo do carro-tanque dos bombeiros onde não perdi a oportunidade de me contorcer toda, garantindo assim que me alojava por debaixo da torneira e usufruía da água do furo, fomos presenteados com mais uma subida que mais parecia a “pedra” do “bife da pedra”. Nós éramos os bifes e vos garanto que fumegámos!
Sobe mais um pouco, porque afinal ainda falta mais um pedaço do “está quase”. Finalmente começamos a ouvir aplausos e vislumbramos aquela “coisa” insuflável vermelha que nos diz que agora está mesmo quase!
Depois do inferno, a bonança…
Cruzámos a meta, a três – eu, a Ana e o Ricardo. Cruzámo-la por três vezes, para garantir que teríamos o registo fotográfico perfeito!
Obrigada, amigos!
Termino conforme escrevi no domingo, horas depois de ter concluído a prova…
Almonda = Al+Monda. Diz-nos o dicionário que “monda” significa limpar ou purificar. Expurgar tudo o que é prejudicial… Pois bem…
A Serra d’Aire ofereceu uma verdadeira purificação a altas temperaturas a centenas de atletas apaixonados pela montanha.
Rejubilemos, pois estamos purificados!
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