sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A Corrida e as Leis de Murphy



Há tempos havia-me debruçado sobre este assunto, mas arrumei-o. Hoje voltou a cruzar-se no meu caminho e não consegui ficar-lhe indiferente.
Murphy era corredor. Ninguém me disse. Não li em lado algum.
A única coisa que por aí se diz é que Edward A. Murphy Jr. terá sido um major e engenheiro da Força Aérea Americana na década de 40.
Eu sei mais que isso. Eu garanto que este senhor ocupava os seus tempos livres a correr… e na montanha!

Senão, vejamos…

Um atalho é sempre a distância mais longa entre dois pontos.
A meta está ali. Bem perto. À direita. Até ouvimos os sinos da igreja da vila a tocar. Ouvimos também os aplausos. No entanto, é certo que alguém da organização responsável pelo desenho do percurso nos vai colocar a "atalhar" pelo caminho mais improvável, com pelo menos mais 5 km, antes de lá chegarmos.

Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que tens disponível.
Sem dúvida. Eu sei disso melhor que ninguém. Faço contas à vida, ou melhor, ao tempo, quando vou para a montanha. É certo que os 10 min/km para percorrer o percurso de rio na Serra da Freita são um absoluto exagero quando os defino em casa. 10 min/km é um verdadeiro absurdo. No local do crime a progressão será, na melhor das hipóteses, a 15 min/km.

Acontecimentos infelizes ocorrem sempre em série.
É certo que num mesmo dia, numa mesma prova, deixemos cair o telemóvel ao rio porque tirávamos uma selfie. De seguida percamos parte da sola da sapatilha porque uma raíz estava no local errado, à hora errada. Está um calor insuportável e ficaremos sem água no camelback. E assim sucessivamente. Em série.

Em qualquer fórmula, as constantes (especialmente as mencionadas nos manuais de engenharia) deverão ser consideradas variáveis.
Mas há dúvidas? Ultra Trail com 50 km. Pois sim. No mínimo serão 55. Trail com 25 km. Claro. Serão no mínimo 28 para aqueles que tiverem a sorte de não perder de vista uma fita de marcação semi-escondida. Não há dúvida quanto ao rigor e precisão científicas dos GPS utilizados pelas organizações de provas em montanha!

Encontrarás sempre aquilo que não procuras.
Vais encontrar lixo na floresta. É triste, mas é verdade. Vais encontrar invólucros de barras de cereais, embalagens de gel, lenços e coisas que tais. Mas a fita que te indica o caminho certo… essa já terá sido removida!

Se te estás a sentir bem, não te preocupes. Isso passa.
Corres a bom ritmo, estás confiante. O piso é técnico mas estás a voar sobre as pedras. Escorregas mas consegues habilmente vencer uma queda no chão. És um super-atleta. Tem calma. Isso passa. Ainda faltam 41 km e 3500 D+ até cruzares a meta.

A Natureza está sempre a favor da falha.
A pedra inanimada que se atravessa no teu caminho terá sempre o movimento suficiente para saltar e te bater na canela. A rocha que atravessas será sempre mais escorregadia do que prevês e acabarás com o nariz esmurrado. A raíz da árvore que surge por debaixo das folhitas terá sempre mais 10 cm do que esperavas. A altura da água do rio será sempre maior do que o que previas e o banho será inevitável. A Natureza adora pregar partidas.

Um morro nunca desce.
Não importa para onde vais. Será sempre morro acima e contra o vento. Ou se calhar o morro até desce, mas depressa concluirás que afinal foi mais fácil subi-lo do que descê-lo, no momento em que os teus joelhos começarem a pedir misericórida e descanso.

O dia de hoje foi realmente necessário?
Quantas vezes te questionas “o que faço aqui?” ou “porque não fui para a praia?”. Quantas e quantas vezes, enquanto corres na montanha, resmungas e proferes palavras que não ensinarias às crianças? O problema… o problema é que quando cruzas a meta, uma estranha sensação de esvaziamento de más sensações e dores acontece, sorris e pensas na próxima!


Bom descanso, boas corridas, boas férias!


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