Há tempos havia-me debruçado sobre este assunto, mas
arrumei-o. Hoje voltou a cruzar-se no meu caminho e não consegui ficar-lhe
indiferente.
Murphy era corredor. Ninguém me disse. Não li em lado
algum.
A única coisa que por aí se diz é que Edward A. Murphy
Jr. terá sido um major e engenheiro da Força Aérea Americana na década de 40.
Eu sei mais que isso. Eu garanto que este senhor
ocupava os seus tempos livres a correr… e na montanha!
Senão, vejamos…
Um atalho é sempre a distância mais longa entre dois pontos.
A meta está ali. Bem perto. À direita. Até
ouvimos os sinos da igreja da vila a tocar. Ouvimos também os aplausos. No
entanto, é certo que alguém da organização responsável pelo desenho do percurso
nos vai colocar a "atalhar" pelo caminho mais improvável, com pelo menos mais 5 km, antes de lá chegarmos.
Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que tens
disponível.
Sem dúvida. Eu sei disso melhor que ninguém. Faço
contas à vida, ou melhor, ao tempo, quando vou para a montanha. É certo que os
10 min/km para percorrer o percurso de rio na Serra da Freita são um absoluto
exagero quando os defino em casa. 10 min/km é um verdadeiro absurdo. No local
do crime a progressão será, na melhor das hipóteses, a 15 min/km.
Acontecimentos infelizes ocorrem sempre em série.
É certo que num mesmo dia, numa mesma prova, deixemos
cair o telemóvel ao rio porque tirávamos uma selfie. De seguida percamos parte
da sola da sapatilha porque uma raíz estava no local errado, à hora errada.
Está um calor insuportável e ficaremos sem água no camelback. E assim sucessivamente. Em série.
Em qualquer fórmula, as constantes (especialmente as
mencionadas nos manuais de engenharia) deverão ser consideradas variáveis.
Mas há dúvidas? Ultra Trail com 50 km. Pois sim. No
mínimo serão 55. Trail com 25 km. Claro. Serão no mínimo 28 para aqueles que
tiverem a sorte de não perder de vista uma fita de marcação semi-escondida. Não há dúvida quanto ao rigor e precisão científicas dos GPS utilizados pelas organizações de provas em montanha!
Encontrarás sempre aquilo que não procuras.
Vais encontrar lixo na floresta. É triste, mas é
verdade. Vais encontrar invólucros de barras de cereais, embalagens de gel,
lenços e coisas que tais. Mas a fita que te indica o caminho certo… essa já
terá sido removida!
Se te estás a sentir bem, não te preocupes. Isso
passa.
Corres a bom ritmo, estás confiante. O piso é técnico
mas estás a voar sobre as pedras. Escorregas mas consegues habilmente vencer
uma queda no chão. És um super-atleta. Tem calma. Isso passa. Ainda faltam 41
km e 3500 D+ até cruzares a meta.
A Natureza está sempre a favor da falha.
A pedra inanimada que se atravessa no teu caminho terá
sempre o movimento suficiente para saltar e te bater na canela. A rocha que
atravessas será sempre mais escorregadia do que prevês e acabarás com o nariz
esmurrado. A raíz da árvore que surge por debaixo das folhitas terá sempre mais
10 cm do que esperavas. A altura da água do rio será sempre maior do que o que previas
e o banho será inevitável. A Natureza adora pregar partidas.
Um morro nunca desce.
Não importa para onde vais. Será sempre morro acima e
contra o vento. Ou se calhar o morro até desce, mas depressa concluirás que
afinal foi mais fácil subi-lo do que descê-lo, no momento em que os teus
joelhos começarem a pedir misericórida e descanso.
O dia de hoje foi realmente necessário?
Quantas vezes te questionas “o que faço aqui?” ou “porque
não fui para a praia?”. Quantas e quantas vezes, enquanto corres na montanha, resmungas
e proferes palavras que não ensinarias às crianças? O problema… o problema é
que quando cruzas a meta, uma estranha sensação de esvaziamento de más
sensações e dores acontece, sorris e pensas na próxima!
Bom descanso, boas corridas, boas férias!
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