sábado, 29 de dezembro de 2012

O tempo voa

A culpa de tudo é do tempo. Não do meteorológico. Esse também não tem culpa. É do outro tempo. Aquele do relógio. O do calendário. Bem vistas as coisas, a culpa nem é do tempo. É da falta dele.
“Aos 20 anos, tens tempo e saúde, mas não tens dinheiro. Aos 40, tens saúde e dinheiro, mas não tens tempo. Aos 60 anos, tens tempo e dinheiro, mas não tens saúde”. A 3 anos dos 40, sinto-me afundada naquela que é a segunda fase da vida, de acordo com este célebre escrito. Talvez por isso este tema tenha surgido espontaneamente e, assim, resolvido escrever umas palavras sobre o assunto.

Deixo agora o meu Algarve. Depois de 7 dias com tempo, regresso à capital do tempo que não chega. Não será diferente de qualquer outra capital, é certo, mas lá o tempo passa a correr. Mesmo quando não corro. É uma correria. Curiosamente, depois de 7 dias de sol, o Algarve despede-se de mim com chuva. Eventualmente fá-lo para que não vá tão triste.
Mas voltemos ao outro tempo.
"A vida já é curta e nós encurtamo-la ainda mais desperdiçando o tempo", escrevia Victor Hugo. "Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais", partilhou Albert Einstein. "O homem que tem coragem de desperdiçar uma hora do seu tempo, não descobriu o valor da vida”, disse sabiamente Charles Darwin. E depois, aquelas citações mais vulgares, que usamos no dia-a-dia… "O tempo passa a correr". "O tempo voa". Quantas vezes dizemos que o tempo passa devagar? São raras, certo? Só acontece quando estamos demasiado entediados. E, nos dias que correm, já não há sequer tempo para estarmos enfadados.
Elas e eles. O tempo não é seletivo. O tempo não é generoso, mas é justo. Ou melhor, é igualmente injusto para ambos os sexos.
Elas… Super-mães, super-solteiras, super-profissionais. Têm que trabalhar, têm que educar os filhos, quando os há. Também têm que brincar com eles. Têm que fazer exercício físico, têm que fazer manicure e pedicure. Têm que fazer psicanálise - não entendo esta necessidade de se “escarafunchar” no passado para descobrirmos o que somos hoje. Têm que pensar no que fazer para jantar, depois têm que o fazer. Às vezes têm que fazer acupunctura, têm que estar lindas, têm que ser lindas. Se souberem dançar, tanto melhor, pelo que têm que aprender salsa, dança jazz ou kizomba.

Eles… Super-pais, super-solteiros, super-profissionais. Têm que trabalhar, têm que educar os filhos, quando os há. Também têm que brincar com eles. Têm que levar o cão à rua. Têm que mudar a areia do gato. Têm que fazer a revisão ao carro, têm que pôr a pressão de ar certa nos pneus. Têm que tratar dos seguros do carro, de saúde, de vida e do recheio da casa. Têm que cuidar das contas do condomínio, da prestação da casa e da gestão financeira diária. Geralmente não sabem dançar, mas não faz mal. Não têm que saber dançar. Não têm que saber o que há para fazer em casa. Basta que haja alguém que lhes diga o que fazer. Uma coisa de cada vez.

O ano tem 365 dias, porque a Terra decidiu que esse seria o tempo que levaria a dar a volta ao Sol. Porque decidiu ser tão rápida? Cada dia tem 24 horas porque a Terra entendeu que esse seria o tempo que demoraria a rodar sobre si própria, numa volta completa. Está com pressa, porquê? Cada hora tem 60 minutos e cada minuto 60 segundos. Se cada minuto tivesse 5 segundos a mais que fosse, ganharíamos ao fim do ano nada mais, nada menos, do que 730 horas. Ora isso é muita hora.

Quero fazer tudo isto e muito mais. Mas quero mais tempo em 2013.
Vou lançar a petição "Esticar o tempo". Ou então "Ó Terra, gira lá mais devagar".
Assinam?

A dois dias de fechar o ano, faço votos para 2013 seja um ano cheio de saúde. Quanto ao resto, como um amigo do meu pai escreveu há dias - que vos/nos traga o suficiente, para que melhor possamos apreciar o que nos oferecer!


domingo, 23 de dezembro de 2012

Mais um Natal na Serra Algarvia

O Natal está a chegar. Tenho a família reunida. Respiramos saúde. Que mais posso pedir?
Confesso que anseio pela noite de amanhã.
Não porque espere que o Pai Natal desça pela chaminé carregado de embrulhinhos. Oxalá não desça. Receio que se queime com as labaredas da lareira. Cá em casa os miúdos já sabem. O Pai Natal tem chave e entra pela porta enquanto jantamos. A árvore está numa sala distinta daquela onde fazemos a ceia. Tudo cuidadosamente planeado. Enquanto jantamos, um dos crescidos coloca os presentes junto à árvore de uma vez só.
Na realidade, eu estou em pulgas porque adoro o bacalhau cozido com todos da minha mãe. Atenção, tem mesmo que ser o da minha mãe. E o vinho tinto escolhido pelo meu pai. Todos os anos fico a observar os restinhos nas travessas. O dia seguinte, dia de Natal portanto, é dia de "roupa velha" e serão precisos o bacalhau e as couves. Sabes o que é "roupa velha"? Não? Pois, só conheces Haagen Dazs. Sabes lá o que perdes.
As sobremesas são muitas, mas eu só tenho olhos para uma. A aletria. Atenção. Não é arroz doce. Só gosto daquela massa fininha, ultra calórica, polvilhada com canela.
A minha mãe é algarvia, o meu pai de Penafiel. Quis o destino que se encontrassem. A gastronomia também se cruzou, pelo que, acredita, tenho o melhor dos dois mundos em casa.
Paladares à parte, gosto mesmo é deste Algarve. O Algarve no Inverno. E esta aldeia na Serra Algarvia em particular. Tenho amigos que cresceram comigo aqui. Eram Verões com os avós que duravam 3 meses. Praia, mas também campo, muito campo. "Stop", macaca, cabra cega, escondidas, cartadas, mata, eu sei lá. O tempo nunca mais terminava... Olha, fui e sou uma afortunada.
Enquanto escrevia, vi a reportagem "Solidariedade em Lisboa" e ouvi a conversa na SIC notícias entre a Ana Lourenço - gosto desta jornalista - e o Frei Fernando Ventura. Que facilidade de expressão. Que inteligência. Que frontalidade. É um homem do norte, bem se vê. Se pudesse, parava o tempo amanhã. Assim teríamos mesmo Natal "todos os dias".

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

“Either write something worth reading or do something worth writing”

Há algumas semanas cruzei-me com esta preciosidade, da autoria de Benjamin Franklin. Redigi três linhas e partilhei no FB. Alguns segundos depois arrependi-me e eliminei o “post”. No entanto, este “quote” ficou a marinar, a marinar… E atingiu entretanto o ponto de rebuçado.

Tenho tido experiências de corrida verdadeiramente maravilhosas nos últimos meses. Aquilo que era uma brincadeira, virou paixão e agora vício. Por outro lado sempre gostei de palavras. Simpaticamente, a família mais próxima sempre me encorajou a escrever. Escrevia para mim, às vezes para alguém. Desde que descobri o FB e a corrida, escrevo para quem me queira ler.

Não sei muito bem porque o faço. Ainda há dias lia um artigo sobre as propriedades terapêuticas da escrita. Pensava eu que a corrida era a atividade das propriedades terapêuticas por excelência – as endorfinas, a serotonina e outras hormonas do género. Mas sejamos francos. Nos dias que correm, tudo é terapêutico. Não tarda virá algum iluminado dizer que estar duas horas por dia no pára-arranca do trânsito é benéfico para a saúde, porque nos permite atingir estados de introspeção e reflexão profundos e descobrir o “verdadeiro eu”.

Dizia eu que tenho corrido. Por aqui, por ali, por aí. E escrito sobre cada uma dessas experiências. Há quem partilhe o treino registado no garmin. Fale da velocidade média, do melhor tempo, da volta mais rápida. Eu gosto de escrever sobre a experiência “correr”. Talvez tenha interiorizado que tenho uma missão de evangelização - pôr “meio-mundo” a correr. Afinal… Antes de começar, eu também não gostava. Corria 2 metros e ficava com a vulgar dor de burro. Desesperada, portanto. E depois… Depois não mais consegui parar.

Minto. Páro agora. Páro agora porque a minha amiga Sofia, que por sinal é fisiatra, me disse que tinha que parar. “Consegues fazer isso, Susana?”, perguntou-me. Respondi “sim, claro”, interrogando-me em silêncio como isso iria ser possível.

Mas é assim mesmo. Esqueci-me que já não tenho 20 anos. Esqueci-me que o corpo precisa de descansar. Na realidade não andava a correr 40 km por semana. Andava a correr para deixar ou apanhar os filhotes na escola, a correr para o trabalho, a trabalhar a correr, a fazer o jantar a correr, a dormir a correr (quando não corria a dormir!). Enfim, uma correria. E agora… Puffff.

Não sei o que me aterroriza mais. Não poder correr. Ou não ter tema para escrever. Mas enquanto espero pela autorização para regressar ao alcatrão ou aos trilhos, irei aprender a escrever, seguindo a sugestão do amigo Jorge. E assim, quando voltar às corridas, talvez consiga escrever algo que valha a pena ler, depois de fazer algo sobre que valha a pena escrever.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Corrida, esse desporto solidário!

Desenganem-se os que dizem que a corrida é um desporto solitário. A corrida é um desporto solidário, isso sim.

Senão vejamos...

Ontem, a Henriqueta, companhia recente das corridas e experiente no assunto, cuidou de mim como uma princesa. Depois de uma massagem desportiva, aplicou-me uma daquelas bandas coloridas - sou tão rookie, continuo a não atinar com o nome - para dar maior suporte à musculatura da perna avariada.

Esta manhã, o Heitor, apoiado de mais um conjunto de amigos - a Verónica, o Luís e outros corajosos que não conheço o nome - levaram a cabo a maravilhosa missão de conduzir a Carina na sua cadeira de rodas durante 42 km, por esta cidade de Lisboa.

O Nuno acompanhou a Joana na sua primeira maratona. O Nuno e a Cristina cruzaram-se e percorreram juntos parte da maratona e meia-maratona.

A Andreia e a Gabriela concluíram também a sua primeira maratona, com o apoio da Henriqueta, Verónica e Heitor.

Ouvi palavras de incentivo de vários companheiros de corrida - a Ana, o Carlos, o Ricardo, o Pedro João, o Pedro. Que bom ver tantas caras conhecidas.

Cerca do km 28, corria sozinha, e com vontade de encostar às boxes. Depois de uma paragem forçada de duas semanas, não foi fácil explicar às minhas pernas que a sua razão de existir era correrem para mim. Seguia "zangada" neste monólogo com os membros inferiores e, confesso, acusando já algumas dores, pensei "estacionar" em Algés. Surge então o Zé. Nunca o nome do blogue do Zé me assentou tão bem. "De sedentária a maratonista". Foi mesmo assim que me senti quando iniciei a minha segunda maratona esta manhã - sedentária. Parecia que em duas semanas tinha desaprendido tudo.

O Zé acompanhou-me até aos 42. Conversando, fazendo-me gargalhar, puxando por mim. Na subida da Almirante Reis pedi-lhe desculpa, mas fui a ouvir a musica "fly", da nicki minaj. "I came to win, to fight, to conquer, to survive (...)". Cantei alto e tudo. Largou-me à entrada do estádio, para que seguisse e cortasse a meta dos 42 pela segunda vez. Lá dentro, mais umas palavras de incentivo do Nelson.

Se podia ter deixado um intervalo maior para a segunda experiência 42? Podia, mas não era a mesma coisa. Admito que o empeno na próxima semana seja significativo, mas nada que algo ao estilo de restaurador olex não resolva. Estar rodeada de "locos que corren" deixa-me mais "loca" ainda. E teria ficado inquieta em casa esta manhã.

De toda a forma, agora vou mesmo descansar e recuperar, para iniciar em grande o ano de 2013, com o meu ultra-objetivo na Serra da Lousã. E depois Sevilha, se as pernas o permitirem. Agrada-me esta história da internacionalização!

Continuação de boas corridas para quem corre. E quem não corre, sugiro que acrescente o objetivo à lista de desejos para o dia 31 deste mês. Sugiro que comam 4 passas de uma vez, para que se concretize mesmo.