quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Sopram-se 11!



Em tempos escrevi que o meu segredo passava por depender de muitas coisas para ser feliz.
Assim, quando uma falha, outras me animam.
Isto é tudo verdade, mas há uma exceção.
Já não conseguiria ser feliz sem a minha Inês.
Há 11 anos a fazer-me feliz!


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Uma Grande Rota que já leva 41 anos




Recordo-me de há alguns anos ter escrito uma extensa “wishlist”, carregada de coisas boas, umas materializáveis, muitas mais não. Nos desejos materializáveis incluia os bifes panados com arroz de tomate e feijão da minha mãe. Dos outros, os “esotéricos”, fazia parte uma complexa mas inspiradora citação: “coragem para mudar o que posso mudar, serenidade para aceitar o que não posso mudar e sabedoria para conseguir distinguir uma coisa da outra”.

Quem gosta de andar serra fora como eu, sabe que não minto se disser que por lá é tudo muito mais fácil do que no “mundo real”. É certo que temos altos. Temos baixos. Temos energia. Falta-nos demais. Por vezes temos um horário a cumprir. Noutras temos tempo de sobra. Temos fitas ou marcas de uma qualquer rota a dizer-nos por onde seguir. Às vezes perdemos-lhes o rasto, mas rapidamente nos apercebemos do engano, voltamos atrás, recomeçamos de novo. Mais fácil seria impossível.


Nestes últimos meses, os traços vermelho e branco de uma Grande Rota têm feito parte de algumas horas das minhas semanas. E já me aconteceu desejar que os pudesse ter na “vida”, a apontar-me o caminho a seguir, com a garantia de que chegaria a bom destino. O trajeto poderia não ser fácil, poderia ter obstáculos (como sempre existem), mas saberia estar a tomar a direção certa para atingir o meu derradeiro objetivo de vida: ser feliz e fazer os que me são queridos felizes.


Apesar de nem sempre saber o caminho a tomar, reconheço que sou uma quarentona com sorte. Independentemente dos meus infinitos defeitos, estou muito feliz por ter nascido esta Susana que sou e não outra coisa qualquer (sim, sim, mesmo a Scarlet Johansson). Só preferia não me chamar Susana (lá estou eu).


Um agradecimento muito especial a quem me tem acompanhado e ajudado a trilhar este longo caminho que já leva 41 anos e muitos, mas mesmo muitos mais altos do que baixos. Estou convicta que ainda falta um pedaço para o “resto” (vou viver até velhinha), por isso “não saiam dos vossos lugares” - ainda terão que me dar uma mãozinha!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Ases nos Asas

O meu pai. E a caligrafia do meu pai no quadro.

Não é Dia do Pai. E o meu pai não faz anos.

Acontece que, há precisamente 4 anos, a família se juntou nos sofás de uma casa numa aldeia serrana algarvia para ver a estreia da reportagem do programa “Perdidos e Achados” da SIC, sobre os Asas de Portugal.

Ainda esta semana falava com o meu pai (a quem também chamam o “pai dos Asas”, e sim, sinto um orgulho desmesurado nisso) sobre as aventuras da “nossa” patrulha, nos tempos em que ainda se exibiam nos ares as cores nacionais, a fazer leques, saca-rolhas, cascatas e reuniões em looping.

Infelizmente não são estas as manobras que nos salvam o mundo, mas são “pequenas” coisas como estas, como diz o meu pai nesta reportagem, que trazem alegria para as nossas vidas.



segunda-feira, 6 de junho de 2016

Correr até ao céu... ou só metade


Foto: Miro Cerqueira

Falámos em janeiro, alguns dias antes de partires. Falaste-me do bordão. Eu não sabia o que era um bordão.

Disse-te que cada vez corria menos e me iria dedicar às caminhadas. Andava cansada, justifiquei. Prometi ainda que quando voltasse à Madeira te acompanharia, a ti e ao teu grupo, o “Madeira de Lés a Lés”, num dos vossos longos passeios, que começam todos os sábados às 7 da manhã.

Voltei à Madeira, mas já cá não estás. Afinal eras tu quem estava cansado.

Não te acompanhei na tua caminhada, mas acompanhaste-me tu na minha. Foi no sábado, mas já passava das 7. Não lhe chamam caminhada, mas sim Santana Sky Race. Grande pinta, não achas? De “race”, claro está, a minha experiência pouco teve. Mas fiz o meu melhor, que é como quem diz, não impressiono ninguém senão a mim mesma, pelo que vejo, pelo que sinto e pelo que transpiro!

Não te deslumbres com o que te conto. Os heróis - os mais experientes, treinados e ousados - fazem a Ultra Sky Marathon Madeira. Dobro da distância, três vezes o desnível - vai na volta sobem tanto que te estendem a mão! Caramba, como não me lembrei disso?!

Super Mário, a tua ilha é linda. Ouves-me, aí ondes estás? É tão bonito quanto aqui? Andas por aí a semear simpatia e a despoletar gargalhadas como fazias cá por baixo?

Fazes cá falta.

domingo, 1 de maio de 2016

Estói aqui!



Na partida - e sim, fui propositadamente a última a sair!

“Todos os anos a aldeia de Estoi celebra a Festa da Pinha, uma tradição secular que, no dia 1 de maio pela madrugada, faz aparecer nas portas, varandas, jardins, ruas, praças e estradas vários bonecos. Estes bonecos de tamanho próximo do real, feitos artesanalmente pela população com palha e diversos tecidos, são conhecidos por Maios e Maias. A origem desta tradição remonta às festas pagãs da Roma antiga. Ao longo dos tempos esta tradição tornou-se símbolo da chegada da Primavera, dando as boas vindas ao mês de maio, garantindo que as colheitas corressem bem, afastando o diabo ou as bruxas e, mais recentemente, como sátira social”.

No início, em Estói, e já vou cansada!

Ontem estive em Estoi, no Trail de Ossónoba/Água de Faro, para o trail de 25 km que arrancou do Largo da Igreja pelas 18:30. Nunca antes havia ligado o frontal na Serra Algarvia. Foi uma experiência deliciosa, com a Primavera a fazer-se anunciar com os seus cheiros, mais intensos depois do ocaso. Quando os ouvi, aos grilos, dei-me conta das saudades que tinha dos seus cantares! No final, não quebrando a tradição, encontrei esta Maia (que afinal nasceu em novembro), com tamanho próximo do real – 1,56 m, mais coisa, menos coisa - um pouco cansada. Afinal foram mais de 1.100 metros de desnível positivo!

É agora que chegamos lá acima? (não sabes em que vais subir mais 4 "serras"!)

A ATR está de parabéns - mostrou-me uma parte do Algarve que desconhecia e fê-lo de forma exemplar: desde as marcações, à simpatia dos voluntários (imensos por todo o percurso!) e com uma receção na meta muitíssmo animada, ou não se celebrasse a chegada de tantos Maios e Maias que se aventuraram "monte" fora.

E agora, tempo de festejar a chegada de maio (o mês, não o boneco), celebrar o dia do trabalhador (que hoje não trabalha!) e por último, mas seguramente mais importante, na qualidade de mãe abraçar os meus filhos e na qualidade de filha abraçar a minha mãe!


sexta-feira, 22 de abril de 2016

Eccezionale Einaudi!

Einaudi, no Coliseu de Lisboa


“A true lover of art - recognizes art - no matter the difference”. Li esta frase esta manhã, perfeitamente enquadrável no tributo que Einaudi dedicou a Prince, ontem, no Coliseu de Lisboa. Só veio provar que este brilhante compositor é de facto um senhor da música. E assim tocou “Fly”.

Antes dessas já outras havia tocado. E com muitas outras nos presenteou depois. As novas, as antigas, as “velhinhas”. Assim, de repente, Night (um encanto!), Petricor, Drop, Four Dimensions (que interpretação!), Elements (claro!), Twice (para mim, a melhor do novo album), Una Mattina, Time Lapse… Acompanhado e a solo. Duas horas de música que dificilmente não marcaram quem por lá esteve.

Só não foi a “experience” perfeita, porque há muitas dezenas de espectadores que ainda não sabem que um espetáculo desta natureza é diferente dos que se ouvem no MEO ARENA e merecem outro tipo de postura. Por respeito aos artistas e a quem lá está para ouvir nenhuma outra coisa que não seja Einaudi e usufruir de nenhuma outra luz que não seja a do palco – flashs, telemóveis ligados e coisas que tais não se enquadravam naquele lugar.

Com Einaudi estiveram 5 outros músicos - o Riccardo não terá deixado as meninas indiferentes (e não falo apenas da percussão!) e o Federico, que trocava de instrumento como as senhoras trocam de brincos, deixou-nos de boca aberta.

Einaudi e a sua música fazem bem à saúde. Fabricam sorrisos e despoletam "pêlos eriçados". Já o havia provado no CCB em 2013 e voltou a mostrar porque tanta gente, miúda e graúda, vibra ao som das suas composições - se ouvi-lo em casa, no carro ou nos trilhos é uma preciosidade, ao vivo, é um fogo de artifício de criatividade.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Susana no (tempo) limite


Tens que treinar, treinar, treinar.
Fazer séries.
Fartlek.
Crossfit.
Reforço muscular.
Nadar também faz bem.
Pedalar alivia as articulações.
Tens que tomar suplementos. Energéticos. Proteicos. Vitamínicos.
É isso.
Ou então não.
Neste meu hobby permito-me ter a inconsciência que não me autorizo noutras coisas da vida. As coisas sérias.
Sou a Susana no (tempo) limite.
O que teria perdido se não me tivesse lançado para o que não estava preparada!



quinta-feira, 7 de abril de 2016

Via Algarviana - de Alcoutim às Furnazinhas



A Grande Rota, que liga Alcoutim ao Cabo de São Vicente


São 300 os quilómetros que ligam Alcoutim ao Cabo de São Vicente. A Via Algarviana está seccionada em 14 setores, adaptados a caminheiros.

Decidi fazer um pouco de batota. Não os farei de seguida. Mas juntarei dois setores de cada vez. E, se tudo correr bem, chegarei ao Cabo de São Vicente antes que o ano termine. Isso mesmo. Farei o caminho quando fizer, chegarei ao fim quando chegar. A única condição que me impus foi de o terminar este ano.

O que tem de especial? Provavelmente nada. Trata-se de adaptar um projeto há muito adiado à "disponibilidade da vida" e às visitas ao Algarve. Desta forma consigo tudo fazer - correr e gozar o amor da família.

O dia 1 desta aventura aconteceu em véspera de dia de Páscoa. O meu irmão levou-me ao km 0 - foram precisas quase hora e meio de carro para lá chegar - e o meu pai foi-me buscar às Furnazinhas, a "meta" que havia definido para o dia. Sou uma valente sortuda com apoios assim.

Estes dois troços estão muito bem sinalizados, não oferecendo grandes dúvidas. Esta questão é tanto mais importante para alguém como eu, que pouco se entende com GPS e que decidiu aventurar-se sozinha monte fora.

Os campos estavam lindos - não me canso de dizer que parece que o jardineiro por lá haveria andado na semana anterior - e a temperatura muito agrádavel. O sol tímido, espreitava uma ou outra vez, mas manteve-se a maior parte do tempo escondido, o que acaba por se revelar positivo neste tipo de experiências, que se querem mais frescas.


 Ao longo do Guadiana

Os primeiros quilómetros ao longo do Guadiana são preciosos. O caminho a tomar para a GR está perfeitamente identificado, mas são muitos os PR que entrocam no percurso principal - mas não, não me desvio do meu caminho.

Sigo maioritariamente por estradões, que na generalidade das vezes estão limpos, salvo uma ou outra ocasião, em que se encontram pontuados de pedras.

Falhei os menires - sim, não me apeteceu desviar um pouco do trilho para os ir espreitar, seguindo sempre em frente, porque para a frente é que é o caminho.

Consigo manter um trote ligeiro a subir e em plano. Nas subidas opto por caminhar, da forma mais vigorosa possível, para não me atrasar.


 Tudo o que desce, tem que subir!


O percurso está cheio de "sobe e desce", traduzindo-se assim nos seus mais de 1.000 metros de desnível positivo e quase 700 m de desnível negativo, para cerca de 38 km. No meu caso foram alguns quilómetros mais, porque na chegada ao fim do primeiro setor, em Balurcos, perdi "o fio à meada", depois de uma energizante cola e amendoins (daqueles a sério, que se descascam e tudo!) num café da povoação.

No regresso ao trilho, acabei por tomar a indicação de um PR (sim, a lista amarela estava desbotada e pareceu-me branca) e fazer alguns quilómetros fora da Via Algarviana. Percebi que algo fazia pouco sentido e voltei atrás, ao ponto de partida. Lá estava ela, a marca da GR, num pilarete semi-escondido pelas ervas do caminho - e segui então pelo trilho certo. 


 O jardineiro andou por aqui esta semana, certo?


Vou atravessando algumas povoações e deixando-me encantar pelas casas caiadas de branco, com os seus rebordos coloridos e cortinados de renda.



 Posso entrar?


Os campos estão tão floridos, que até na água encontro flores. Água, sim, fui encontrando alguma pelo caminho e não perdi naturalmente a oportunidade de me refrescar (por vezes até à cintura), molhando o buff, passando-o pelo rosto e espremendo-o pelo pescoço abaixo - como fico revigorada com esta frescura!

Ao longo do percurso não tive outra companhia que a dos sons dos pássaros e, em particular, das perdizes. Muitas perdizes. Perdizes gordas, muito gordas. Minto. Nas primeiras horas, passaram por mim 3 ciclistas. Nada mais que isso. Tenho todo o tempo do mundo para em tudo pensar, alternando com "pensar vazio".


Flores por toda a parte!


A descida para a Ribeira da Foupana é longa. Tudo o que desce, sobe, por isso sei que depois de a atravessar a vida não vai ser fácil.

Chego a uma aldeia e perco o rumo, questionando dois velhotes que estão junto ao estradão. "Por onde segue a Via Algarviana?", pergunto. "É por ali. Mas a menina vai sozinha? E vai atravessar a ribeira sozinha?", respondem admirados. "Ah, não faz mal, estou habituada", pensando para comigo que dificuldade poderia oferecer uma ribeira na serra algarvia, depois de um inverno em que pouco chouveu. A ribeira não tinha muita água, é certo, mas como o objetivo é atravessar onde for mais fácil, perco a sinalização e, quando me encontro na outra margem, vejo-me abraçada por arbustos mais altos do que a minha altura. Caminho uns metros e só 5 minutos depois, que mais parecem 15, vejo a marca da Via Algarviana - é por aqui e... é para subir muito. "Coitados dos ciclistas", concluo. 


Cenário divertidíssimo, este que encontrei.


O céu cobre-se de cinza escuro, olho para o relógio, avisto o reservatório de água e verifico que estou no topo das Furnazinhas. Desço as escadas até à vila, sem gente. Encontro um senhor que me pergunta se preciso de algo. "Onde posso beber alguma coisa?", respondo. O senhor era o dono do café, que acabara de ser fechado, para depois reabrir, apenas para mim.

Uns minutos depois chega a chuva e o meu pai, para me levar de regresso a casa, onde a Inês e Diogo me esperam para saber em que lugar fiquei na "corrida". Desta vez fui a primeira e a última, esclareço.

Próxima etapa: no dia que calhar, em abril ainda, assim o espero, Furnazinhas a Cachopo, completando assim mais dois setores da Via Algarviana, num total de 35,2 km. 

Por agora, já só faltam 260 km!

terça-feira, 29 de março de 2016

Antípodas


Em Colónia, no dia de regresso, entro no elevador com mais um hóspede.

Ele: Going home?
Eu: Yes, back to Lisbon. Not that far. I bet you’ll face a longer trip.
Ele: Yes. In fact I’m flying to New Zealand.
Eu: New Zealand?! That’s the antipode of Portugal! Could not be more far away! You know you have a famous trail runner in New Zealand, right?
Ele: True?
Eu: Oh yes! Her name’s Anna Frost and she’s one of the best. You should check her.

E pronto. Nunca mais verei o senhor, mas já espalhei “a palavra”.
Tudo isto porque me lembrei do filme HOME da Salomon e desta música que o acompanha.



sexta-feira, 25 de março de 2016

Via Algarviana, em vários atos



A Via Algarviana


Caminhos? Caminhos há muitos!

Este é um projeto há muito adiado, reavivado no Verão passado, em setembro, enquanto palmilhava os trilhos do Trail do Lince e me cruzei com várias marcas do percurso da Via Algarviana.

A Via Algarviana é uma Grande Rota Pedestre que liga Alcoutim ao Cabo de São Vicente, com uma extensão de 300 km e atravessando 11 concelhos do Algarve (Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Tavira, São Brás de Alportel, Loulé, Silves, Monchique, Lagos, Portimão e Vila do Bispo).

A missão que me auto-propus e, como tal, aceitei e abracei fervorosamente, será fazer o percurso de forma faseada, aquando das visitas regulares aos meus pais, no Algarve.

O plano não é muito ambicioso - propus-me concluir dois setores de cada vez, já que a divisão do percurso está adaptada a caminheiros. Como ainda acredito que conseguirei manter um trote ligeiro, poderei completar dois setores em cada dia. Estou certa que terei que rever a estratégia quando chegar ao setor que inicia em Silves e termina lá em cima, em Monchique!

Fora uma dezena de quilómetros que já tive oportunidade de percorrer perto de casa, no concelho de Silves, desconheço o que me espera. A expectativa é grande e vou antecipando o momento da chegada ao extremo Sudoeste deste nosso País, no Cabo de São Vicente, um pouco a Norte da Ponta de Sagres, onde esta aventura terminará - só não sei precisar quando!

Amanhã é o dia "1". Comecarei de manhã cedo em Alcoutim e, se tudo correr bem, terminarei nas Furnazinhas, 38,5 km depois. Contarei com o apoio logístico do meu pai, já que as dificuldades para chegar ao ponto de partida e chegada constituiriam seguramente a maior aventura do dia!

Etimologicamente, o termo "Páscoa" é originário do latim Pascha e deriva do hebraico Pessach/Pesach, que significa "a passagem". Em véspera de dia de Páscoa, espero que a minha passagem pela Via Algarviana seja abençoada!

quarta-feira, 9 de março de 2016

Recordar o Caminho

Santiago, 9 de Março de 2014


Dois anos me separam deste momento. O momento em que, de sorriso aberto, recebi a minha compostelana na Oficina do Peregrino, em Santiago de Compostela. Susannam, Cidadã de Compostela.

Por várias vezes ouvi que o Caminho de Santiago era o caminho da busca do “eu interior”. No meu caso, porque sou teimosa e do “contra”, mais do que pensar, buscar ou tentar encontrar, obriguei-me a não pensar. É necessária muita disciplina para não pensar ao longo de 250 km em 5 dias. Rapidamente nos distraímos e começamos a pensar em algo.

Como nos dizia um dos corrigrinos do grupo que alinhou nesta fabulosa aventura, “é imperativo fazer o caminho - dificilmente teremos tanto tempo para nós próprios como temos ali". E que bem sabe ter tempo nos tempos de hoje!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Verdes são os campos, da cor do limão, assim são os olhos, das mulheres do meu coração


Eu (ainda com olhos azuis) e a Zé (garanto que tem olhos verdes)


Quando percebi, nos primeiros meses de vida da Inês, que a minha filha teria olhos claros, fiquei muito contente. Não que considere os olhos claros mais bonitos do que os outros. Nada disso. Fiquei muito contente porque assim se garantia a continuidade dos olhos verdes nas mulheres da família - há quem fique contente por haver várias gerações de médicos na família, certo?

A avó Clarinha, a melhor contadora de histórias que já conheci, tinha olhos verdes. A minha mãe, a melhor cozinheira que conheço, tem olhos verdes. Eu tenho olhos verdes (mas já foram azuis). E a Inês, a melhor filha que conheço, tem olhos azuis, que, tal como os meus, "ameaçam" ficar verdes.

Verdes são os olhos das mulheres do meu coração e hoje é o dia de uma delas. Hoje é o dia da Zé, a minha mãe. Hoje celebramos os 70 fantásticos anos de Zé.

Olho para a minha mãe e penso que deverá ter havido algum engano no registo de nascimento. Onde esconde estes 70 anos? A Zé raramente nos causa sobressaltos (que não sejam os que nos provoca por ser muito bonita) mas, no Verão passado, pregou-nos um valente susto. Por isso, no mesmo dia em que fez a operação que viria a ser um verdadeiro sucesso, decidimos que organizaríamos uma festa de aniversário surpresa - e faltavam mais de 6 meses para gritar "surpresa"!

Todas as mães são maravilhosas, mas a minha é a melhor do mundo. E o facto de ser a melhor, vai muito além de motivos como fazer os melhores panados com arroz de feijão, o mais delicioso polvo à lagareiro, a mais saborosa carne à Braz, a mais amarelinha aletria ou a mais bonita pannacota com frutos silvestres!

Neste dia, que é de celebração da vida com saúde, juntamos familiares e amigos, e sentamo-nos à mesa, sem etiquetas ou protocolos, como se de uma gigante família se tratasse.

As mesas, devidamente identificadas, recordam-nos como a família, os amigos e a saúde são o que de mais precioso temos nesta vida - não nos esqueçamos disso:


“A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família”

“A maior riqueza é a saúde” (nesta mesa sentámos naturalmente a equipa de médicos que tem acompanhado a minha mãe!)

“A amizade é como os títulos honoríficos: quanto mais velha, mais preciosa”

”A ave constrói o ninho; a aranha, a teia; o Homem, a amizade”

“A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas”


Parabéns, mãe!


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Tome Abutres. Cuide de Si.

Foto: Miro Cerqueira

Este folheto contém informações importantes para si. Leia-o atentamente.

Substância ativa: essências naturais e substâncias aromáticas
Nome do medicamento: Abutres
Dosagem: variantes Abutres 50 mg, Abutres 25 mg, Abutres Júnior e Abutres Caminhada.
Via de administração: in loco, permitindo a absorção imediata por todos os poros.

Medicamento não sujeito a receita médica. É necessário utilizar Abutres com precaução para obter os devidos resultados.
Caso precise de esclarecimentos ou conselhos, consulte um atleta abútrico. Em caso de agravamento ou não melhoria do seu bem-estar, repita até que resulte (porque é certo que vai resultar). Se detetar quaisquer efeitos secundários não mencionados neste folheto, informe a organização abútrica.

Neste folheto:
1. O que é Abutres e para que é utilizado
2. Antes de tomar Abutres
3. Como tomar Abutres
4. Efeitos secundários possíveis

1. O QUE É ABUTRES E PARA QUE É UTILIZADO

Abutres é um medicamento utilizado no alívio sintomático do stress, ansiedade, mau-estar geral ou qualquer outro sintoma incómodo e persistente. Grupo Farmacoterapêutico: mês01.anoemvigor – aparelhos respiratório, circulatório, digestivo, nervoso, linfático, imunológico, muscular, reprodutor, excretor (e todos os que aqui faltarem). Antistress, purificador de pulmões, energizador do coração e libertador de más energias. Apresenta-se em várias tonalidades, desde o verde ao castanho, provocando sensações de calor e frio alternadas.


2. ANTES DE TOMAR ABUTRES

Não tome Abutres se tem alergia (hipersensibilidade) a casas de xisto, javalis, veados, lama, cascalho, folhinhas, cascatas, ribeiros, pedrinhas, pedronas, cheiro a eucalipto, cogumelos selvagens ou a qualquer outro componente presente na Natureza. Tome especial cuidado com Abutres se estiver a recuperar de algum tipo de lesão muscular. Vá com cautela (a menos que seja dos que treina 7/7 dias, faça treinos bidiários e coisas que tais).


3. COMO TOMAR ABUTRES

Tomar Abutres sempre de acordo com as indicações de quem já tomou. Tomar Abutres com alimentos e bebidas. Tostas com mel, tomate com sal, batatas fritas, gomos de laranja, sopa, bifanas, amendoins, cola, isotónico e minis são o acompanhamento indicado. A duração do tratamento depende da forma física e da sua evolução. Tomar dosagem 50 mg se for ousado ou se não tiver pressa. Tomar dosagem 25 mg se for esperado em casa para lanchar. Em situação de gravidez, deve optar pela dosagem menor, na caminhada. Crianças tomam dosagem Abutres Junior. Não foram reportados casos de sobredosagem devido ao uso de Abutres. Em caso de toma acidental, deverá manter-se calmo e seguir em frente, orientando-se com as fitas de marcação. Se for omitida a administração de uma ou mais doses, o tratamento deve continuar no ano seguinte. Não tome uma dose a dobrar para compensar uma dose que se esqueceu de tomar.


4. EFEITOS SECUNDÁRIOS POSSÍVEIS

Como os demais medicamentos, Abutres pode causar efeitos secundários, no entanto estes não se manifestam em todas as pessoas. Apesar de não haver contra-indicações no uso de Abutres, o produto só deverá ser utilizado após conhecimento da família ou amigo próximo. Dores musculares, particularmente ao nível dos gémeos e quadríceps são comuns (passageiras ao 3º dia ou, na pior das hipóteses, após 5 dias). Efeitos gastrointestinais poderão ocorrer em algumas situações. Alguns casos de dores nas costas, caso não tome as devidas precauções atempadamente, ao nível do reforço do core e lombar. O aparecimento de terra nas unhas dos pés é reportado com frequência. A condução de veículos poderá ficar dificultada após a toma de Abutres. Casos, ainda que raros, de braços, pernas ou dentes partidos. Se foi informado pelo seu médico que tem intolerância a cheiros da Natureza, contacte-o antes de tomar Abutres. Abutres provoca a libertação de serotonina e dopaminas podendo causar reações de alegria e sensação de superação extremas. Perturbações gerais são raras tendo sido reportados casos de ligeira sensação de amnésia (do tipo, o que estou aqui a fazer, porque não fiquei no sofá), que rapidamente desaparecem.

Este folheto foi aprovado pela última vez em: 01/02/2016.

Foto: sportsonfire

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Açores



Há muito que não corro com música. De resto, há muito que não corro. Mas, quando oiço música, raras são as vezes que não me vejo monte acima e abaixo.

Esta, particularmente, porque tem um nome especial, remeteu-me para o Faial Costa-a-Costa (ainda não encontrei melhor sensação na corrida do que, completamente exausta, descer a correr sobre cinzas para a meta), mas também muitos anos antes, 33 anos antes, para aquela que é a “Terceira” ilha, a rebolar, relva abaixo, depois de ter subido, junto à Messe de Oficiais na Base das Lages, com a amiga que hoje é madrinha da Inês e que me escolheu para madrinha da Leonor.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O Bordão do Mário




Esta rica experiência tem que se transforma num tónico para inspirar o caminhante em novos desafios, sabendo sempre que o caminho se faz caminhando. A vida sem obstáculos perdia o sabor da glória no momento da conquista.

Assim escreveu Rui Nóbrega, dinamizador do grupo Madeira de Lés-a-Lés, enquadrando um outro texto. O do Mário.

Foi em maio último. O Mário fora desafiado para uma caminhada nível de dureza 5 (numa escala de 5). O nível de dureza concluí eu, depois de ler o que escreveu, claro. Qualquer coisa como “em números redondos, 3 horas para cima e 4 horas para baixo” (palavras do Mário), entre a Vereda da Achada dos Judeus e o Topo das Queimadas, locais que, apesar da minha “vasta” experiência de 85 km sobre pés, de lés-a-lés, naquela ilha, desconheço. Ainda. Lá voltarei, como de resto havia apalavrado com o Mário, 4 dias antes do dia em que o coração do Mário decidiu parar, já que o seu dono teimava em não lhe dar descanso.

Nesse texto que o Mário escreveu e me enviou, intitulado “Rocha, o homem caiu”, o homem que caiu foi efetivamente ele próprio, mas rapidamente se levantou porque, claro, e palavras dele, “havia todo um prestígio a manter”. Assim era o Mário.

Foi nesse texto também que soube existir a palavra “bordão”. “O que é? Um bastão?”, perguntei eu. “É uma espécie de cajado”, respondeu ele. O bordão. De madeira, pesado, a contrastar com essas modernices que uso, leves, em carbono, que encolhem e esticam, para não comprometer o desempenho do “atleta” e que, só para marcar a diferença, têm o nome de bastão. “Super Mário” era o que lhe chamava a brincar. Mais uma vez provava que o era. No sábado passado, antes de partir para a sua caminhada, enviou-me a foto do bordão. Vou guardar, qual relíquia.

Há um par de meses, quando fiz 40 anos, deixou-me três lindas garrafinhas de poncha da Madeira. Não tive coragem de lhe dizer que detesto licores ou bebidas doces. Mas as garrafas eram (são) lindas. Prometo que as vou esvaziar, por ele, para ele, brindando e exclamando o seu nome. Não por acaso, ainda há dias lia “there is no eternal resting place for anybody, we exist to eternally create”. O Mário que não pense que lhe vão dar descanso.

De resto, do Mário guardarei a contagiante alegria, a genuína amizade, os “olás” inesperados (e que sabiam tão bem) e os fantásticos momentos pós-foruns-europeus-sobre-qualidade-de-serviço-aeroportuário: o melhor kebab no tasco mais manhoso de Istambul e a requintada “raclete” no Café de l’Hotel de Ville de Genebra, onde o chefe dos empregados era emigrante português, proferiu com dificuldade a palavra “saudade” e nos deixou a ambos a choramingar.

Saudade é o que me, nos deixas. Olha por nós. Decerto estás bem e confortavelmente instalado nesse cantinho de céu que é teu por direito.