quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Inês e Trilhos dos Abutres

A minha filha Inês tem 7 anos. Gosto desmesuradamente da Inês. Quem não conhece as gargalhadas da Inês não sabe o que perde. Conseguiriam fazer gargalhar a mais triste das almas deste planeta.
Diz quem me conheceu em pequena que a Inês é um clone da mãe. Eu própria o verifico nas fotos de ambas. E lembro-me de mim assim. Como a vejo. Mas não sou daquelas mães que quer ver a filha crescer à sua semelhança. Nada disso. Quero que seja ela própria, o melhor que souber. Pode ser antropóloga, professora, economista, o que quiser. Neste mundo de incertezas, é cada vez mais difícil prever onde estará o melhor futuro.
A Inês chama-se Inês porque eu não tive a mesma sorte. Era o nome escolhido pela minha mãe quando soube que esperava uma menina. No entanto, uma prima da minha mãe antecipou-se e teve a sua bebé primeiro, a quem chamou Inês. Grande azar o meu. Para mim sobrou o nome "Susana". Teria adorado ser Inês.
Ontem, quando questionada pela catequista quanto à profissão da mãe, a Inês terá respondido "atleta". Reconheço que para além de trabalhar no Aeroporto de Lisboa, faço muitas outras coisas. Mas "atleta" não faz parte da minha lista de valências. Adoro correr, é certo. Mas não sou atleta. Atleta, diz-nos o dicionário, é o "profissional dos desportos (preferencialmente atléticos) e das atividades físicas". Onde encaixo aqui? Em lado nenhum. Logo, não sou atleta. De toda a forma, longe de mim contrariar a Inês nesta fase. Vê-me sair para correr, vê-me chegar a casa com medalhas (participação, claro) e ouve meio mundo dirigir-se à mamã dizendo "então atleta, essas corridas?".
Hoje entrou no carro depois da escola dizendo que já tinha feito os trabalhos de casa. Uma composição cujo tema era "a minha profissão preferida". "E que profissão escolheste tu, Inês?", perguntei. A resposta... "Atleta". Ri-me, claro está. Entretanto, já em casa, fui buscar o caderno. O objetivo era verificar eventuais erros ortográficos e alertar a Inês para o facto. E, claro, procurar saber os motivos que levavam a Inês a escolher a profissão que pensa ser a da mãe. Sorri. Espero que a Inês não me leve a mal a inconfidência, mas vou partilhar algumas das suas palavras. "(...) E assim apareço nos jornais e na televisão. E se for a primeira ganho uma medalha. E assim batem palmas. (...) E se eu ganhar o campeonato posso ficar campeã. Posso falar ao microfone. E se eu ganhar flores? (...)". Depressa concluí que a Inês não será uma atleta no futuro. Tenho aqui uma artista!
Daqui a 4 dias parto uma vez mais para a Serra da Lousã. Tenho um assunto a resolver com a serra, que ficou pendente em novembro último, quando fiz os meus primeiros 30 km de trilhos à séria. Ao contrário do que desejava, não me estrearei na mítica distância, a ultra. Para quem não sabe, qualquer distância superior a 42.195 m. A minha condição física obrigou-me a fazer "downgrade" para os 23 km. Adicionalmente, pasmem-se, tive medo da ultra. Comecei a ouvir falar de mantas de sobrevivência, apitos, neve, gelo e coisas que tais e estremeci. Não tenho correntes para colocar nos ténis. Nos 23 km não subirei tanto. E terei tempo para o meu esperado "tête-a-tête" com aquela magnífica serra.

E porque falo dos Trilhos dos Abutres? Porque sei que a Inês vai adorar rever-me aquando do meu regresso. A Inês perdeu recentemente os dois incisivos centrais de leite, Quem sabe fiquemos ainda mais parecidas!





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