segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Mamã, quero ir para uma escola de corrida!



“Mamã, quero ir para uma escola de corrida”, disse-me a Inês, depois de concluir os 1.000 metros no AXTrail Kids na Serra da Lousã e arrecadar um brilhante segundo lugar. Sorri. Que bom é quando as alegrias dos filhos são as alegrias dos pais, mas quando o contrário também se verifica. Levei a Inês para uma versão “kid” de montanha e a Inês quer continuar. Falo da Inês, mas o Diogo também lá estava. Não foi ao pódio, mas pouco faltou. No entanto o Diogo prefere o ténis à corrida e não fico menos satisfeita por isso.

As mulheres-mães não são melhores do que as que não o são. Mas são mulheres diferentes, dotadas de uns quaisquer super-poderes especiais. Ainda há dias li um artigo sobre empresas que recrutavam mamãs com bebés pequenos. Aparentemente está provado que são as melhores gestoras em planeamento e tempo no mercado de trabalho.

Não cresci a desejar ser mãe. Só descobri como era bom ser mãe depois de o ser. Não ficava derretida com os bebés dos outros. Só quando eram bebés verdadeiramente bonitos. Rechonchudos e carequinhas. Que fazer? Sou sensível a bebés bonitos. Mas depois fui mãe. Uma vez e mais outra. E, quando somos mães, somos todas iguais. Ficamos acordadas a ver se o bebé respira. Provamos a sopa para ver se está quente. Limpamos os cocós e xixis dos nossos bebés sem complexos porque são os únicos que não cheiram mal. Rapamos os restinhos que deixam no prato sem “mete nojo”. Falamos “bebéês” com os nossos filhos e não nos importamos que pensem que somos tontas por o fazermos. Ficamos nervosas no primeiro dia de escola. Ficamos deprimidas quando começamos a ouvir falar em qualquer coisa terminada em “ite”. Desabafamos com as amigas-mães sobre o que nos inquieta. Sobre as coisas maravilhosas que os nossos filhos fazem ou dizem. Sobre as coisas menos boas que fizeram ou disseram. Sobre o quão maravilhoso é ser mãe mas também o quão difícil é conseguir chegar a todo o lado. Mas uma coisa é certa. Balanços feitos, no final do dia, quando estão deitados e os observamos nas caminhas com a sua respiração suave, concluímos que não mudaríamos nada e que não saberíamos estar nesta vida não sendo mães.

Serve este texto para dizer que não corri, não me cansei, não contraí qualquer empeno (exceção feita ao já adquirido há meses no joelho e que me obrigou a parar por uns tempos contra vontade). Não revi a beleza que a Serra da Lousã oferece. Não subi nem desci montes. Desta vez não precisei. O entusiasmo a equipar a Inês e Diogo com as minhas meias de compressão, vê-los a correr e sujar os pés na lama e no final devorarem gomos de laranja… devolveu-me a alegria de viver a montanha e de cortar uma meta!

12 comentários:

  1. É tudo como dizes e é para a vida toda, mesmo depois de crescidos é exactamente isso que se continua a sentir, alegrias nas vitorias frustrações nas derrotas, ansiedade, entusiasmo... é bom ser mãe, se o não fossemos acho que não seriamos as pessoas que somos, beijinho

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  2. Muito bonito este texto. Naturalmente não sou mãe, mas sou pai de duas meninas lindas e identifico-me com muito do que escreves...acredito que como mãe esses sentimentos ainda sejam mais fortes.
    Beijinhos e espero que recuperes rápido para voltares a ter empenos dos "bons" :)

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    1. Muito obrigada, Carlos. Sem dúvida que também os papás sentem o que as mamãs sentem! Apenas somos mais piegas! Estou a recuperar e espero regressar em breve.

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  3. Belíssimo texto que transborda ternura em cada linha.
    Beijinhos para todos!

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    1. Obrigada, José Capela! É ternura o que sinto mesmo. Beijinho.

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  4. A Su no seu melhor. O texto é o melhor comentário que eu podia escrever. Belo.

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  5. Muito bem! Consegue-se sentir a ternura nas palavras!

    As melhoras!

    Unleash the runner in you

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  6. Como dizia o nosso Saramago:
    "Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem.
    Isto mesmo ! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
    Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo".

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